França vive comoção por ataque com faca contra crianças
Um refugiado sírio armado com uma faca espalhou o terror nesta quinta-feira (8) em um parque de Annecy, nos Alpes franceses, onde feriu seis pessoas, incluindo quatro crianças pequenas, antes de ser preso.
Este "ataque absolutamente covarde" e que deixou "várias crianças e um adulto entre a vida e a morte", nas palavras do presidente Emmanuel Macron, causou comoção na França e demonstrações de solidariedade na Europa.
O agressor, Abdalmasih H., era um refugiado sírio que obteve proteção na Suécia em 2013, onde viveu por dez anos. Ele se mudou para a França no fim de 2022, onde solicitou asilo em novembro, segundo várias fontes.
A Justiça abriu uma investigação por tentativas de assassinato, descartando por ora uma "motivação terrorista", disse a promotora de Annecy, Line Bonnet-Mathis, que também detalhou que o agressor não agiu sob efeitos de drogas ou álcool.
A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, que visitou a cidade turística de cerca de 140.000 habitantes nos Alpes, observou que o homem não tinha antecedentes judiciais ou psiquiátricos conhecidos.
Na França, sua situação era legal. Sua ex-esposa na Suécia, com quem tinha uma filha de três anos, disse à AFP que ele foi embora porque não obteve a nacionalidade sueca. Além disso, contou-lhe, há quatro meses, que estava vivendo "em uma igreja" na França.
A mãe do autor do ataque, que vive nos Estados Unidos há dez anos, disse que está em "estado de choque". Segundo ela, seu filho "sofre grave depressão".
"Ele não me disse nada. Foi minha nora quem me disse", detalhou. "Ela dizia que ele nunca estava bem, sempre deprimido, com pensamentos ruins, não queria sair de casa, não queria trabalhar...", disse.
O agressor exclamou "em nome de Jesus Cristo" em inglês quando atacou, segundo um vídeo ao qual a AFP teve acesso. Quando foi detido, portava uma cruz e, em seu arquivo de pedido de asilo, declarou-se um "cristão da Síria", segundo uma fonte policial.
O ministro do Interior Gérald Darmanin declarou à emissora TF1 que, "por razões ainda não esclarecidas, ele buscou asilo também em Suíça, Itália e França".
Em seguida, descreveu a recusa dos pedidos de asilo e o ataque com faca como uma "preocupante coincidência".
O ministro também explicou que, na manhã desta sexta-feira, o agressor deverá ser submetido a um exame psiquiátrico.
- Quatro crianças em estado crítico -
O ataque ocorreu por volta das 9h30 (4h30 no horário de Brasília), nos Jardins da Europa, um parque muito frequentado às margens do Lago Annecy.
Vestido de preto e com um lenço na cabeça, o agressor caminhou em direção aos carrinhos e atacou as crianças em uma área de recreação, de acordo com as imagens do drama.
Diversas testemunhas relataram que o agressor tentou fugir, ferindo um homem em seu caminho, antes de ser rapidamente detido pela polícia, que atirou contra ele.
"Ele queria atacar todo mundo. Eu me afastei, e ele atacou um avô e uma avó e esfaqueou o avô", disse Anthony Le Tallec, ex-jogador do Saint Etienne e do Liverpool, ao jornal regional Le Dauphiné libéré.
Seis pessoas ficaram feridas, entre elas quatro crianças, que se encontram em estado crítico. Há também um adulto em estado grave, segundo a promotora de Annecy.
As quatro crianças, entre elas um holandês e um britânico, foram levados para Genebra (Suíça) e Grenoble, depois de um primeiro atendimento no local.
"Seu estado de saúde é extremamente frágil, estão ainda em emergência absoluta", disse a promotora Bonnet-Mathis, que destacou que o agressor mirou nas "partes vitais".
Um adulto também foi internado após ser atacado pelo agressor e atingido depois por disparos da polícia durante a detenção. Outro adulto ficou ferido mais levemente, acrescentou.
- 'Desumano' -
Pela tarde, as autoridades reabriram o acesso ao parque. Muitas crianças voltaram a brincar na mesma área onde ocorreu a agressão, que alterou a vida nesta cidade tranquila.
"Meu filho de 17 anos viu tudo. Uma pessoa puxou uma faca e esfaqueou um bebê em seu carrinho [...]. Depois ele viu uma multidão, gritos, sangue", contou uma mãe que foi procurar o filho na prefeitura.
"É desumano. Ouvi gritos dos pais, e vi o agressor com a faca [...] Disse a mim mesmo que morreria se corresse, assim, me afastei caminhando", contou Clémence, uma estudante de 17 anos.
Da esquerda à extrema direita, líderes políticos condenaram o ataque e expressaram sua solidariedade às vítimas e a seus familiares. A Assembleia Nacional fez um minuto de silêncio.
Em um contexto de tensão política sobre uma futura reforma migratória, os partidos de direita e extrema direita pediram um endurecimento desta política para frear a "imigração em massa".
L.Bufalini--PV