Equador elege presidente sob clima de medo pela violência do narcotráfico
O Equador concluiu um dia eleitoral sem surpresas neste domingo (15) para escolher sua primeira presidente mulher ou o presidente mais jovem de sua história, com o desafio de lidar com a crescente violência ligada ao narcotráfico.
Buzinas de carros nas ruas acompanharam o fim das votações às 17h00 locais (19h00 de Brasília) para escolher entre Luisa González, aliada do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), e Daniel Noboa, filho de um dos homens mais ricos do país.
Os candidatos votaram usando coletes à prova de balas, acompanhados por guardas armados e clamaram pelo fim da violência no país de 16,9 milhões de habitantes.
Nos últimos anos, o Equador se transformou em um centro de operações de cartéis de droga com ramificações internacionais, que impõem um regime de terror e deixam milhares de mortos.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) informou que a participação foi de aproximadamente 82,33% dos 13,4 milhões de equatorianos convocados para votação obrigatória.
Durante a tarde, surgiram denúncias de fraude após a circulação nas redes sociais de imagens de uma pessoa preenchendo cédulas a favor de Noboa em um centro de votação.
Diana Atamaint, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), anunciou a abertura de uma investigação "imediata" sobre essa suposta irregularidade, que foi repercutida por Rafael Correa na rede social X, antigo Twitter.
Apoiado por partidos de direita e autoproclamado de centro-esquerda, Noboa pode se tornar o presidente mais jovem na história do país aos 35 anos. Sua adversária, a esquerdista González, uma cristã evangélica de 45 anos, aspira a ser a primeira mulher eleita para a presidência do país andino.
"Vou votar com medo (...) O que mais me preocupa é o tema da insegurança e da delinquência", disse à AFP Freddy Escobar, um cantor de 49 anos em Quito.
Está previsto que os primeiros resultados comecem a ser divulgados a partir das 18h30 locais (20h30 em Brasília).
Por volta de 100 mil militares e policiais estão mobilizados em todo o país para garantir a segurança.
- Presidência fugaz -
O vencedor governará o Equador por quase 17 meses, até o final do mandato do presidente de direita Guillermo Lasso, que dissolveu o Congresso e convocou eleições antecipadas para evitar um impeachment por corrupção.
Especialistas consideram que o novo mandato será uma espécie de pré-campanha para as eleições de quatro anos em 2025.
"Hoje nós vencemos!", disse Noboa com o punho erguido após votar em Olón (sudoeste), a cidade onde mora.
González também se mostrou confiante em Canuto (sudoeste), onde votou: "O desejo é de que o Equador triunfe, ou seja, que a Revolução Cidadã vença", referindo-se ao partido do correísmo.
A violência política manchou a campanha: oito líderes políticos foram assassinados.
Fernando Villavicencio, um dos favoritos para o primeiro turno em 20 de agosto, foi baleado ao sair de um comício em Quito poucos dias antes da votação. Depois, sete dos presos envolvidos em seu assassinato foram mortos em diferentes prisões.
González e Noboa se comprometeram a combater o crime e os cartéis de drogas. Entre 2018 e 2022, os homicídios quadruplicaram e atingiram 26 por cada 100.000 habitantes. Este ano, especialistas calculam que esse número subirá para 40.
Gangues ligadas a cartéis mexicanos e colombianos lutam pelo negócio das drogas e usam prisões como escritórios logísticos, onde ocorreram massacres cruéis. Desde 2021, mais de 460 detentos morreram nesses confrontos.
- Pobreza e desemprego -
No Equador, 27% da população vive abaixo da linha da pobreza em um país dolarizado, enquanto a soma de desemprego e subemprego está em 26%.
"As pessoas mais velhas não recebem mais oportunidades de emprego", disse a desempregada Eufemia Idrobo, de 51 anos, sem revelar seu voto.
Tatuada, esportista e ativista dos direitos dos animais, González propõe um Estado mais solidário após os governos de direita que sucederam Correa, condenado a oito anos de prisão por corrupção.
Embora afirme que manterá a independência, sua eventual presidência simboliza o retorno, em outro corpo, do ex-presidente exilado na Bélgica desde 2017.
No primeiro turno, González obteve 34% dos votos e Noboa, 23%, mas várias pesquisas mostraram um aumento nas intenções de voto para o filho do magnata do setor bananeiro.
Noboa aspira realizar o sonho frustrado de seu pai, que se candidatou cinco vezes à presidência sem sucesso. Em 2006, perdeu para Correa, que agora, das sombras, é rival de seu herdeiro.
Reservado e pouco sorridente, o jovem candidato chegou ao segundo turno sendo praticamente um desconhecido na política. Muito ativo nas redes sociais, Noboa propõe dinamizar a economia, oferecendo facilidades de crédito para pequenas e médias empresas.
Sua proposta mais comentada foi a criação de navios-prisões para isolar os presos de suas redes criminosas.
Sem maioria absoluta no Congresso, qualquer um dos candidatos enfrentará dificuldades para concretizar suas reformas.
T.Galgano--PV