Pallade Veneta - Ante diferenças, Sínodo sobre futuro da Igreja opta pela prudência

Ante diferenças, Sínodo sobre futuro da Igreja opta pela prudência


Ante diferenças, Sínodo sobre futuro da Igreja opta pela prudência
Ante diferenças, Sínodo sobre futuro da Igreja opta pela prudência / foto: Filippo MONTEFORTE - AFP

O Sínodo que reúne bispos e laicos esboçou uma "mudança de cultura" na Igreja católica, deixando em suspense temas sensíveis como a homossexualidade, uma prudência que mascara profundas diferenças internas.

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Desde 4 de outubro, os 365 membros da assembleia geral, procedentes de todos os continentes e assistidos por uma centena de especialistas, debateram a portas fechadas, no Vaticano, com o objetivo de finalizar um documento de 42 páginas, publicado no sábado (28).

Trata-se de um Relatório de Síntese antes de uma nova reunião dentro de um ano.

Apresentada como uma reflexão profunda sobre o funcionamento da Igreja, essa reunião abordou temas como poligamia, ordenação de homens casados, luta contra o abuso de menores e ecumenismo.

Essas questões preocupavam um setor conservador da Igreja, que temia que os debates levassem a uma distorção da doutrina, ainda mais com a "pequena revolução" contra o clericalismo, por parte do papa Francisco, que decidiu que laicos e mulheres poderiam votar pela primeira vez, como bispos e cardeais.

Ante o temor de divisões internas, que até deram origem a rumores de um cisma, os organizadores insistiram nas palavras "diálogo", "fraternidade" e "escuta", mas filtrando drasticamente as informações sobre o conteúdo dos debates.

Como sinal da importância desta "mudança de mentalidade", revisou-se o formato desse órgão consultivo. Clérigos e laicos se sentaram juntos em torno de mesas-redondas, no mesmo nível e sem levar em conta posições hierárquicas.

- "Menos piramidal" -

"É o primeiro sínodo, no qual quase não houve bispos com batinas, ou símbolos distintivos. Há uma espécie de fraternidade, todo o mundo tinha o direito de falar", disse à AFP o padre franco-alemão Christoph Theobald, um teólogo jesuíta que participou como especialista.

Segundo ele, esta assembleia marca uma evolução da "arquitetura da Igreja", que se torna menos piramidal e coloca sobre a mesa a questão da "inclusão de pessoas, cujo estilo de vida difere do que a Igreja prega", como os divorciados que se casaram novamente.

Sob a pressão das associações feministas que denunciam o "patriarcado" e a rigidez dogmática de uma instituição milenar, as reflexões sobre o papel da mulher ressaltaram a "urgência" de garantir sua participação na tomada de decisões.

Os participantes também propuseram "a pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres" ao papel de diácono, um laico que pode celebrar funerais e casamentos, mas não missas.

Essas propostas encontraram forte resistência, e foram as que receberam mais votos negativos, cerca de 20% dos votos.

- "Longo prazo" -

A aceitação de casais homossexuais, outro tema esperado, ficou em segundo plano. O termo "LGBT" nem aparece no documento final, que evoca apenas a "identidade de gênero" e a "orientação sexual". Tampouco se menciona a proposta de abençoar os casais homossexuais, uma omissão que decepcionou as associações católicas LGBT e os fiéis mais progressistas.

Alguns destacaram as lacunas culturais e geográficas ligadas à diversidade dos participantes: patriarcas das Igrejas Orientais, mães, jovens...

"De certo modo, tratava-se de evitar divisões e preparar o terreno para o ano que vem. Alguns temas precisam de tempo para amadurecer. É uma visão de longo prazo", comentou um participante.

Em seus quase 87 anos, o papa terá a última palavra sobre as conclusões desse encontro. Na missa de encerramento do domingo, reiterou seu "sonho" de uma Igreja "com as portas abertas".

M.Romero--PV