Equador tem segundo prefeito assassinado às vésperas de referendo contra o crime
O prefeito de uma localidade mineradora do sul do Equador foi assassinado nesta sexta-feira (19), o segundo homicídio de uma autoridade máxima municipal em apenas três dias, às vésperas do referendo do próximo domingo sobre reformas para enfrentar o crime organizado.
"Jorge Maldonado, prefeito de Portovelo, #ElOro, foi vítima de disparos que causaram a sua morte", informou a polícia na rede social X. Ele foi o segundo prefeito do Equador assassinado desde a última quarta-feira, quando José Sánchez, chefe municipal da localidade mineradora de Camilo Ponce Enríquez, foi morto.
Uma dezena de políticos foram assassinados desde 2023 no Equador. O caso mais noticiado foi o do presidenciável Fernando Villavicencio, baleado em agosto por assassinos de aluguel colombianos ao deixar um ato de campanha em Quito antes de eleições antecipadas no mesmo ano.
À violência política soma-se uma crise energética e outra diplomática dias antes de um referendo promovido pelo presidente Daniel Noboa para decidir se serão endurecidas as penas contra o crime organizado e se será aprovada a extradição de cidadãos do país.
O Equador enfrenta apagões de até 13 horas devido a uma seca grave desde março. O governo também lida com uma imagem internacional manchada e a ruptura das relações com o México, depois que esse pais o acionou na Corte Internacional de Justiça (CIJ) por invadir sua embaixada em Quito.
- Referendo contra o crime -
A polícia informou que Maldonado foi assassinado “enquanto realizava atividades pessoais” em um bairro de Portovelo, na província costeira de El Oro, que faz fronteira com o Peru. Promotores, jornalistas e policiais também estão entre as vítimas de organizações criminosas com vínculos com cartéis do México e da Colômbia, bem como com a máfia albanesa.
Localizado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores mundiais de cocaína, o Equador deixou há anos de ser uma ilha de paz e se tornou um ponto estratégico para grupos ligados ao narcotráfico, que impõem um regime de terror. No ano passado, o número de homicídios atingiu um recorde de 43 para cada 100 mil habitantes.
Diante da investida do narcotráfico, que deixou em janeiro cerca de 20 mortos, o presidente Noboa declarou naquele mês o país em conflito armado interno e mobilizou as Forças Armadas com a ordem de neutralizar cerca de 20 grupos, chamados de “terroristas” e “beligerantes”.
- 'Crise grave de segurança' -
“A onda de violência que tirou a vida de dois prefeitos equatorianos em menos de uma semana é um sinal de alerta que não podemos ignorar”, advertiu a Associação de Municipalidades Equatorianas (AME). Os crimes são “sinais de uma crise de segurança grave, que ameaça a vida de todos os líderes municipais", acrescentou.
A AME exigiu “do Estado e das autoridades correspondentes uma ação imediata e decisiva para garantir a segurança dos 221 prefeitos do país”.
Investigações jornalísticas sugerem que os assassinatos recentes têm relação com a mineração ilegal de ouro. Segundo o portal Código Vidrio, o grupo criminoso Los Lobos controla e opera cerca de 20 minas de ouro ilegais em Camilo Ponce Enríquez. El Oro e Azuay têm alto potencial de mineração e são cenário de atividades ilícitas.
Noboa, que ocupa o cargo desde novembro para um mandato de 18 meses, promove o “sim” ao endurecimento das leis contra os grupos criminosos na consulta do próximo domingo: aumentar as penas para crimes como terrorismo e tráfico de drogas, que os militares forneçam apoio complementar à polícia no combate ao crime organizado, e que as armas apreendidas possam ser usadas pela força pública.
O.Pileggi--PV