Ao menos 20 mortos em ataques contra igrejas ortodoxas e uma sinagoga no Cáucaso russo
A Rússia anunciou nesta segunda-feira (24) o fim dos confrontos armados no Daguestão, região do Cáucaso, onde ataques no domingo contra igrejas ortodoxas e uma sinagoga deixaram 20 mortos e dezenas de feridos.
A operação "antiterrorista" iniciada após os ataques terminou na manhã de segunda-feira: cinco criminosos foram mortos e suas identidades foram estabelecidas, anunciou o Comitê Antiterrorista Russo.
Não está claro se todos os criminosos foram eliminados ou se alguns conseguiram escapar. As motivações ainda não foram determinadas pelos investigadores.
Os ataques aconteceram na cidade costeira de Derbent e em Makhachkala, capital do Daguestão, uma região de maioria muçulmana que fica ao lado da Chechênia e faz fronteira com a Geórgia e o Azerbaijão.
Na década de 2000, o Daguestão foi cenário de uma rebelião islamista, esmagada pelas forças russas após anos de confrontos, motivados pela segunda guerra da Chechênia.
O Ministério da Saúde local declarou nesta segunda-feira que ao menos 20 pessoas morreram e ao menos outras 26 ficaram feridas no domingo.
"Desses 26, alguns estão em estado mais grave, de modo que a cifra de 20 (mortos) ainda pode aumentar", indicou à AFP um porta-voz ministerial.
O Comitê de investigação russo, que abriu uma investigação por "atos terroristas", afirmou que havia 15 agentes das forças de segurança entre os mortos.
Os autores do ataque tinham como alvo duas igrejas ortodoxas, duas sinagogas e um posto de controle policial.
A Igreja ortodoxa russa declarou que seu arcipreste, Nikolai Kotelnikov, foi "brutalmente assassinado" em seu temlo de Derbent.
O grande rabino da Rússia, Berl Lazar, denunciou um "crime espantoso", guiado pela vontade de "matar o maior número possível de inocentes".
- "A guerra chega" -
Os ataques aconteceram três meses após o atentado reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI) no Crocus City Hall, uma casa de espetáculos a alguns quilômetros de Moscou.
O atentado de 22 de março deixou mais de 140 mortos e reavivou a ameaça do terrorismo islamista no país.
Questionado se Moscou temia a volta de uma insurgência islamista ao país, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, respondeu “não” e disse que a Rússia tinha “mudado”.
“Acho perigoso subestimar uma versão da ameaça islâmica”, disse Grigory Shvedov, editor-chefe do site caucasianknot.info, ambos considerados pela Rússia como agentes estrangeiros.
Shvedov afirmou que a “disfunção das autoridades” é “evidente”, pois em vez de se concentrarem nos “terroristas locais no Daguestão”, as forças de segurança têm se dedicado à “operação militar especial” na Ucrânia e “ao Ocidente”.
O chefe do governo regional do Daguestão, Sergei Melikov, foi nesta segunda-feira à sinagoga de Derbent, que foi atacada.
Em vídeo publicado por seu gabinete, ele é visto caminhando pelo interior do prédio, onde ainda são visíveis manchas de sangue no chão.
“Sabemos quem está por trás destes ataques terroristas e qual o objetivo que perseguem”, disse Melikov no Telegram, sem esclarecer contra quem foi dirigida a sua declaração.
“Temos que compreender que a guerra também chega às nossas casas. Nós a sentíamos, mas hoje a vivemos”, acrescentou, em uma declaração que pode ser interpretada como uma referência ao conflito na Ucrânia.
Ainda nesta segunda, Melikov afirmou que os autores do ataque vieram do Daguestão, segundo agências de notícias estatais russas.
Após o atentado à casa de espetaculos Crocus em março, as autoridades russas apontaram o dedo, dentre outros, para Kiev, mas sem fornecer provas.
A Rússia promove uma ofensiva contra a Ucrânia desde fevereiro de 2022.
- Três dias de luto -
O governo do Daguestão decretou três dias de luto a partir desta segunda-feira.
O aeroporto de Makhachkala foi cenário de distúrbios em outubro, quando uma multidão invadiu as pistas do terminal após o pouso de um avião procedente de Israel.
O tumulto aconteceu em 29 de outubro, poucas semanas após o início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, desencadeada por um ataque do movimento islamista palestino no sul do território israelense em 7 de outubro.
A Rússia já foi alvo de vários atentados e ataques reivindicados pelo grupo jihadista EI, embora sua influência continue limitada no país.
Além do atentado contra o Crocus City Hall em março, vários membros do EI morreram no fim de semana passado depois que tomaram dois agentes penitenciários como reféns em uma prisão no sul da Rússia, segundo as autoridades.
O EI também ameaçou Moscou por seu apoio ao regime sírio de Bashar al Assad.
O.Merendino--PV