HRW acusa Israel de 'atos de genocídio'; MSF denuncia 'limpeza étnica' em Gaza
As ONGs Human Rights Watch (HRW) e Médicos Sem Fronteiras (MSF) somaram suas vozes, nesta quinta-feira (19), para criticar fortemente a conduta de Israel na guerra em Gaza, denunciando "atos de genocídio" e de "limpeza étnica", acusações que a diplomacia israelense tachou de "mentiras".
"As autoridades israelenses criaram deliberadamente condições de vida que buscam causar a destruição de uma parte da população de Gaza, privando intencionalmente os civis palestinos do território de um acesso adequado à água, o que provavelmente provocou milhares de mortes", afirma a HRW em um comunicado que acompanha seu relatório.
"Ao fazer isto, as autoridades israelenses são responsáveis pelo crime contra a humanidade de extermínio e por atos de genocídio", afirma a ONG.
Desde o início da guerra, com o ataque sem precedentes do movimento islamista palestino Hamas em 7 de outubro de 2023, Israel foi acusado em várias ocasiões de cometer um genocídio em Gaza, tanto por ONGs como por vários países que levaram o caso à justiça internacional.
O Ministério de Relações Exteriores de Israel repudiou com firmeza estas acusações e assegurou que o relatório está "cheio de mentiras" e acusou a HRW de tentar "promover sua propaganda anti-israelense".
Em um informe, a Médicos Sem Fronteiras denunciou "sinais evidentes de limpeza étnica, com os palestinos sendo deslocados à força, ficando aprisionados e bombardeados".
O relatório documenta 41 ataques contra o pessoal da MSF, inclusive bombardeios contra estabelecimentos de saúde e tiros diretos contra comboios humanitários. Também ressalta o cerco que Israel impõe à Faixa de Gaza, o que fez com que a ajuda humanitária enviada ao território palestino fosse reduzida.
A AFP contactou a diplomacia e o exército israelenses, mas estes não comentaram o relatório da MSF.
- Vontade de "extermínio" -
Perguntado pelas acusações da HRW, um porta-voz militar respondeu à AFP que o exército repudia "firmemente as acusações de que apontou deliberadamente contra infraestruturas hidráulicas na Faixa de Gaza".
O COGAT, organismo israelense que supervisiona os assuntos civis nos Territórios Palestinos Ocupados, afirma que atualmente há três tubulações de água proveniente de Israel em funcionamento.
Em seu relatório, a HRW considera que limitar o acesso dos habitantes de Gaza à água denota uma vontade de "extermínio" e constitui "atos de genocídio". A organização, no entanto, não atribui diretamente o "genocídio" a Israel, porque esta acusação exige a demonstração de uma intenção genocida.
Mas "o comportamento apresentado neste relatório, assim como as declarações que permitem pensar que certas autoridades israelenses buscam aniquilar os palestinos de Gaza, podem indicar esta vontade", afirma o relatório.
- "Nem água, nem combustível" -
A HRW recorda que o então ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, ordenou um "cerco completo" ao território palestino em 9 de outubro de 2023.
"Não haverá eletricidade, comida, água ou combustível", disse ele na ocasião.
A HRW detalha como o abastecimento de água diminuiu devido à falta de energia elétrica, essencial para o funcionamento das bombas em vários poços na rede local.
O relatório de quase 200 páginas cita vários profissionais de saúde em Gaza que afirmam que a falta de água provocou mortes ao causar ou facilitar o surgimento de doenças, especialmente em crianças pequenas.
Usando imagens de satélite, a HRW também demonstra que pelo menos um reservatório e outras infraestruturas de distribuição de água foram destruídas ou gravemente danificadas e acusa Israel de limitar a entrada do material necessário para o reparo das instalações.
A organização exige que Israel "garanta imediatamente" uma quantidade suficiente de água, combustível e eletricidade na Faixa de Gaza para garantir o respeito aos direitos fundamentais e faz um apelo à comunidade internacional para que "adote todas as medidas a seu alcance para impedir que um genocídio seja cometido em Gaza".
O ataque do Hamas provocou a morte de 1.208 pessoas do lado israelense, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais que incluem reféns mortos em cativeiro na Faixa de Gaza.
A campanha israelense de retaliação deixou mais de 45.000 mortos no território palestino, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, que a ONU considera confiáveis.
A.Graziadei--PV