Belém se prepara para mais um Natal sem brilho devido à guerra em Gaza
Centenas de fiéis se reuniram nesta terça-feira (24) ao redor da igreja da Natividade na cidade palestina de Belém, que se prepara para mais um Natal apagado, sem grandes celebrações devido à guerra em Gaza.
As autoridades locais decidiram pelo segundo ano consecutivo suspender as grandes celebrações públicas. A Praça da Manjedoura não tem decorações, nem a tradicional árvore de Natal gigante, um reflexo do dia a dia sombrio de seus habitantes desde que a guerra entre Israel e o Hamas começou em Gaza.
No Vaticano, o papa Francisco iniciará nesta terça-feira o Ano Santo de 2025, a grande peregrinação internacional para a qual são esperados mais de 30 milhões de fiéis de todo o mundo em Roma.
Nesta véspera de Natal, às 19H00 (15H00 de Brasília), na presença de quase 30.000 pessoas e com transmissão para todo o mundo, o jesuíta argentino abrirá a Porta Santa da basílica de São Pedro do Vaticano, simbolizando o início do Jubileu "ordinário".
Em seguida, Francisco presidirá a Missa do Galo na basílica de São Pedro, ocasião em que o pontífice aproveita para chamar a atenção para os conflitos no mundo.
No fim de semana, as declarações do papa sobre a "crueldade" dos bombardeios israelenses em Gaza geraram críticas do governo de Israel.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, relatou na segunda-feira "alguns progressos" nas negociações para um acordo sobre os reféns mantidos na Faixa de Gaza desde o ataque sem precedentes do movimento palestino Hamas em outubro de 2023, uma das condições para um cessar-fogo no território palestino.
Em Belém, poucos vendedores de café e milho aguardavam clientes na praça da Natividade, que fica no centro da localidade palestina onde, segundo a tradição cristã, nasceu Jesus Cristo.
- Alegria limitada -
"Não colocamos uma árvore de Natal, nem decoramos as ruas", explicou à AFP Anton Salman, prefeito de Belém, uma localidade da Cisjordânia ocupada, território palestino separado da Faixa de Gaza, onde o Hamas está em guerra com Israel desde o ataque de milicianos islamista em território israelense em 7 de outubro de 2023.
"Limitamos a alegria", afirmou o prefeito. "Queremos (...) mostrar ao mundo que a Palestina continua sofrendo com a ocupação israelense e a injustiça".
A igreja terá sua tradicional missa à meia-noite, com a presença do patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa. Mas a data estará centrada na religião, sem o ambiente festivo que costumava tomar as ruas de Belém no Natal.
"Vamos rezar para pedir a Deus que acabe com os nossos sofrimentos", afirmou Salman.
Para os cristãos da Terra Santa (quase 185.000 em Israel e 47.000 nos Territórios Palestinos), a religião continua sendo um refúgio.
Netanyahu enviou uma mensagem aos cristãos nesta terça-feira e prometeu lutar contra "as forças do mal".
No início da tarde, um grupo de escoteiros, alguns com cartazes com mensagens como "Parem o genocídio agora", se reuniu em Belém.
Atrás deles, o patriarca Pizzaballa contou que acabara de chegar de Gaza. "Vi toda a destruição, a pobreza e o desastre. Mas também vi a vida, eles não desistem. Vocês também não devem desistir. Nunca", declarou.
Nas ruas de Belém, os vendedores ambulantes expressam desesperança. Mohamad Awad, 57 anos, trabalha há mais de 25 anos nas imediações da mesquita de Omar, diante da igreja da Natividade.
"Espero que a guerra termine logo e que os turistas retornem", disse
Apesar da guerra em Gaza, Christiana von der Tann, uma turista alemã, viajou a Belém com o marido. O casal também visitou a filha, uma jornalista que mora em Tel Aviv, Israel.
"É triste ver tão poucas pessoas", afirmou. "É muito triste para as pessoas aqui, não podem vender suas coisas", disse, embora tenha reconhecido que conseguiu passear tranquilamente pela igreja da Natividade, praticamente sem turistas.
R.Zarlengo--PV