Governo e mídia da Hungria têm novo alvo: o filho de Soros
Após anos demonizando o bilionário investidor George Soros como uma sinistra ameaça liberal, o governo húngaro e seus meios de comunicação aliados encontraram um novo alvo: seu filho Alexander.
Os veículos de mídia leais ao primeiro-ministro nacionalista Viktor Orbán intensificaram os ataques após o anúncio na segunda-feira de que Soros estava passando o controle de seu império filantrópico para seu filho de 37 anos.
O bilionário de 92 anos se tornou uma figura detestada pela extrema direita internacional devido às atividades de sua fundação, a Open Society Foundations (OSF).
Na Hungria, o governo o acusou de querer "inundar a Europa" com migrantes devido ao apoio da entidade a organizações de direitos dos refugiados.
Por sua vez, as autoridades de Budapeste foram acusadas de usar grupos antissemitas para atacar o filantropo judeu nascido na Hungria, retratando-o como uma figura sombria e manipuladora.
O governo sempre negou tais alegações.
"O governo transformou George Soros em uma espécie de inimigo" a quem culpar por tudo, desde a inflação até o isolamento diplomático do país, afirma Peter Kreko, diretor-executivo do centro de reflexão Political Capital, que inclui a OSF em sua lista de doadores.
- 'Propaganda LGBTQIA+' -
Orbán foi um dos primeiros a comentar a notícia de segunda-feira. No Twitter, ele postou uma cena do filme "O Poderoso Chefão", na qual o protagonista beija seu filho, acompanhada do texto: "Soros 2.0".
Em uma entrevista de rádio, o líder culpa Alex Soros pelo acordo alcançado na semana passada pelos ministros do Interior da União Europeia (UE) sobre a reforma do sistema de asilo.
O pacto da UE foi alcançado porque "Soros passou a liderança de seu império para seu filho, que dita um ritmo ainda mais duro do que ele", disse Orbán.
As reações da mídia não demoraram a chegar em um país onde as publicações independentes foram marginalizadas e onde a retórica anti-LGBTQIA+ ganhou força.
O site de notícias Origo publicou fotos de Alex ao lado de um homem descrito como seu "companheiro de vida".
"Aparentemente, isso faz parte da propaganda LGBTQIA+ do menino Soros", disse o artigo.
"As imagens mostram eles demonstrando sua união física e emocional de forma às vezes provocativa. Eles frequentemente se abraçam e se seguram pelas mãos", continuou a publicação.
Alexander Soros, que costuma ser discreto sobre sua vida pessoal, já havia sido alvo de informações falsas em 2018, quando circularam boatos de que ele havia participado da Parada do Orgulho em Budapeste.
As fotos que foram publicadas como prova correspondiam a outra pessoa.
Centros de análise financiados por Orbán também participam desse ecossistema.
Tamas Fritz, do instituto Alapjogokert Kozpont, por exemplo, ecoou essa insinuação e descreveu o filho de Soros como uma pessoa "mais radical" do que seu já criticado pai.
- 'Castelo de cartas' -
Nas redes sociais, o coletivo de influenciadores pró-governo "Megafon" se dedica a contrapor o "tsunami" de conteúdo financiado pela Open Society.
Embora não esteja claro como o grupo é financiado, o Megafon gasta milhões de euros em anúncios políticos em plataformas como YouTube e Facebook.
Um de seus membros, Daniel Deak, alertou sobre essa "força rejuvenescida" que quer "quebrar a pátria".
Contatada pela AFP, a OSF disse, por meio de sua porta-voz Laura Silber, que aceita "críticas construtivas", mas que "demonizar aqueles que não compartilham suas ideias não é uma maneira eficaz de evoluir uma nação".
"Alex, fervoroso defensor dos direitos humanos, da democracia e de uma política humana de imigração, espera que a Hungria, país de nascimento de seu pai, possa adotar esses valores", acrescentou.
Para Peter Kreko, era previsível que a retórica contra Soros não mudaria com a ascensão de Alexander à frente da OSF, que deixou a Hungria devido à pressão do governo ultraconservador.
"O castelo de cartas retórico construído pelo governo se apoia em George Soros. Sem ele, tudo desmoronaria. Portanto, era de se esperar que a retórica continuasse mesmo com Alex Soros assumindo o protagonismo", concluiu Kreko.
C.Grillo--PV