Realismo mágico latino-americano chega ao MET com 1ª ópera em espanhol em um século
Pela primeira vez em quase um século, a 'Metropolitan Opera' de Nova York cantará em espanhol. Estreia, nesta quinta-feira (16), "Florencia en el Amazonas", a ópera do mexicano Daniel Catán que pretende, com seu exotismo e realismo mágico, levar novos ares à programação, em busca de novos públicos.
Florencia Grimaldi, protagonista interpretada pela soprano Aylin Pérez, é uma grande diva que, após ter triunfado nos principais palcos de ópera do mundo, embarca em um barco a vapor no início do século XX rumo a Manaus, sede da lendária ópera no coração da Amazônia brasileira. Ela vai em busca de seu amor perdido, um caçador de borboletas desaparecido na selva.
"É maravilhoso ter um novo trabalho que as pessoas não conhecem tão bem, embora não seja tão novo", disse à AFP Mary Zimmerman, diretora do MET, reconhecendo que os amantes da ópera têm dificuldade em abandonar o já conhecido.
"Eles amam suas tradições: ouvir as músicas repetidas vezes", diz.
É como visitar "um velho amigo", mas os amantes da ópera "deveriam fazer novos amigos", afirma.
A terceira ópera de Catán, encomendada pela Grande Ópera de Houston em 1996, e de sua libretista Marcela Fuentes-Berain, também mexicana, que estudou com o Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, lembra a obra do escritor colombiano "O amor nos tempos do cólera".
Apesar de ser uma ópera relativamente nova, tem todos os elementos do romantismo: "é melódica, exuberante, parece Puccini. Às vezes, é muito colorida", descreve Zimmerman.
Também aborda um eterno dilema: escolher entre a carreira profissional ou o amor.
No navio "El Dorado", entre vegetação abundante, piranhas, bromélias, crocodilos, pássaros e a exuberância da selva, viajam três tipos de mulheres. Além da diva que alcançou o sucesso profissional em detrimento do amor, estão Rosalba, uma jornalista que prepara uma biografia da estrela e que não quer que o amor a desvie de seu caminho, e um casal farto um do outro, onde o desamor está presente.
No meio disso, uma violenta tempestade tropical vira o navio e, com ele, naufragam os princípios até então inamovíveis de seus passageiros.
A produção de Zimmerman está repleta de latinos: de Aylin Pérez, filha de imigrantes mexicanos e uma das estrelas em ascensão do MET, a Gabriella Reyes, que interpreta Rosalba, filha de imigrantes nicaraguenses, a mezzo-soprano espanhola Nancy Fabiola Herrera, o tenor guatemalteco Mario Chang, ou o cenógrafo Riccardo Hernández, nascido em Havana e criado em Buenos Aires.
Esta é a terceira obra em espanhol que ressoa no templo nova-iorquino da ópera, depois de "Goyescas", do compositor espanhol Enrique Granados, em 1916, e de "La vida Breve", de Manuel de Falla, apresentada dez anos depois.
O.Pileggi--PV