Putin promete punir culpados do ataque em Moscou e denuncia vínculo com Ucrânia
Vladimir Putin prometeu neste sábado (23) "punir" os responsáveis pelo ataque que deixou pelo menos 133 mortos em Moscou na sexta-feira, e garantiu que os suspeitos foram detidos quando fugiam para a Ucrânia, sem mencionar a reivindicação do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
A Ucrânia negou veementemente qualquer vínculo com o ataque e disse que a Rússia, cuja ofensiva combate há mais de dois anos, busca apenas uma forma de transferir a culpa.
O ataque à sala de concertos Crocus City Hall, nos arredores de Moscou, na noite de sexta-feira, é o mais sangrento na Rússia em duas décadas e o mais mortal reivindicado na Europa pelo grupo EI.
O presidente russo disse em um discurso televisionado que os quatro agressores foram detidos enquanto "se dirigiam para a Ucrânia, onde, segundo dados preliminares [dos investigadores], foi preparada uma 'janela' para que atravessassem a fronteira".
Putin apoiou assim a versão apresentada pouco antes pelos seus serviços de segurança, o FSB. Em nenhum momento do seu discurso mencionou a reivindicação do grupo jihadista Estado Islâmico, transmitida na noite de sexta-feira e reiterada neste sábado.
"O ataque foi realizado por quatro combatentes do EI, armados com metralhadoras, uma pistola, facas e bombas incendiárias", afirmou a organização jihadista em uma das suas contas no Telegram, acrescentando que o ataque se enquadra no contexto "da guerra" com "os países que combatem o Islã".
Putin, recém-reeleito por mais seis anos, descreveu o drama como um "ato terrorista selvagem", prometeu punir todos os responsáveis e decretou este domingo como dia de luto nacional.
Pouco antes, o Kremlin havia anunciado a prisão de 11 pessoas, incluindo "os quatro terroristas diretamente envolvidos no ataque".
Estas quatro pessoas foram presas na região de Bryansk, na fronteira com a Ucrânia e Belarus, afirmou posteriormente o Comitê de Investigação Russo, competente neste tipo de crimes.
O ataque ocorreu na sexta-feira, antes de um show do grupo de rock russo Piknik, em uma sala de concertos do Crocus City Hall, em Krasnogorsk, um subúrbio a noroeste de Moscou.
O FSB afirmou que os suspeitos tinham "contatos" na Ucrânia, confrontada com uma intervenção militar russa desde 2022, e planejavam fugir para este país após o ataque, mas não ofereceu provas deste suposto vínculo nem deu detalhes sobre a sua natureza.
O assessor presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, negou a acusação da Rússia e afirmou na rede social X que "as versões dos serviços especiais russos sobre a Ucrânia são absolutamente insustentáveis e absurdas".
- Advertências -
O número de mortos subiu para 133 neste sábado, segundo as autoridades, e pode continuar aumentando, já que as buscas continuarão durante vários dias entre os escombros do edifício, devorado pelas chamas e cujo teto desabou parcialmente.
Os agressores usaram armas automáticas e iniciaram um grande incêndio com líquido inflamável, segundo os investigadores.
Segundo os primeiros elementos da investigação, as pessoas morreram devido a "ferimentos de bala" e por inalarem a fumaça do incêndio.
A imprensa russa começou a noticiar o ataque por volta das 20h15 (14h15 no horário de Brasília).
"Pouco antes do início [do show], ouvimos rajadas de metralhadoras e o grito terrível de uma mulher. E depois muitos gritos", disse à AFP Alexei, um produtor musical que estava nos camarins.
"As pessoas pisoteavam umas às outras, houve uma avalanche", disse Anna, uma mulher de 40 anos, que explicou que estava no local com o marido, que caiu no chão, mas acabou conseguindo escapar com ela.
O EI, que a Rússia combate na Síria e também atua no Cáucaso russo, já cometeu ataques no país desde o final da década de 2010, mas nunca assumiu a responsabilidade por um ataque de tal magnitude.
A reivindicação do grupo jihadista levanta, no entanto, algumas questões.
De acordo com a mídia russa e o deputado Alexander Jinstein, alguns dos suspeitos são originários do Tadjiquistão.
Os Estados Unidos garantiram na sexta-feira ter avisado a Rússia, no início de março, sobre um possível ataque "terrorista" em um local de Moscovo com "grandes concentrações" de pessoas, disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional em Washington, Adrienne Watson.
A polícia e as forças especiais russas permanecem posicionadas neste sábado em frente ao complexo incendiado, onde centenas de equipes de resgate recolhiam os escombros em busca de mais vítimas.
Na manhã deste sábado, longas filas de espera se formaram em frente a alguns centros de doação de sangue em Moscou, segundo imagens da mídia estatal russa. Cartazes que dizem "Estamos de luto 22/03/2024" também apareceram em alguns pontos de ônibus.
Vários eventos públicos foram cancelados no país, como o amistoso marcado para segunda-feira, em Moscou, entre as seleções russa e paraguaia.
O.Pileggi--PV