Pallade Veneta - Françoise Hardy, ícone do pop francês sem querer

Françoise Hardy, ícone do pop francês sem querer


Françoise Hardy, ícone do pop francês sem querer
Françoise Hardy, ícone do pop francês sem querer / foto: PATRICK KOVARIK - AFP/Arquivos

A cantora francesa Françoise Hardy, falecida nesta terça-feira (11) aos 80 anos de idade, foi um ícone dos anos 1960 sem querer, uma artista que fez da discrição seu escudo e da melancolia seu estilo musical.

Alterar tamanho do texto:

Seu filho Thomas Dutronc anunciou nas redes sociais o falecimento da artista, que foi diagnosticada com um primeiro câncer em 2004.

Seu maior sucesso foi "Tous les garçons et les filles", uma canção que interpretou com apenas 18 anos (1962).

O enorme impacto dessa música em toda uma geração de jovens franceses poderia tê-la encaixado como uma ídola yeyé, mas Hardy soube explorar outros terrenos musicais sem perder popularidade.

Nascida em 1944 em um bairro popular de Paris, filha de uma mãe solteira, obteve sua primeira guitarra aos 16 anos e cursou estudos em um pequeno conservatório de música.

Conseguiu se destacar no mundo musical parisiense barulhento do início dos anos 1960, onde estrelas emergentes como Johnny Halliday (vizinho de bairro) traçavam seu destino à sombra do rock and roll anglo-saxão.

Em 1964 interpretou "Mon amie la rose", outro grande sucesso. "Comment te dire adieu", de Serge Gainsbourg, é lançado em 1968.

Françoise Hardy também é um ícone da moda. Seu físico andrógino e sua discrição a distanciaram de estrelas exuberantes como Brigitte Bardot. Ela foi um presságio da elegância que logo inundaria as passarelas do mundo inteiro.

Com cabelos longos e franja, Hardy exibia com perfeição os futuristas vestidos metálicos do estilista Paco Rabanne.

Tornou-se uma modelo de revistas como Paris Match. O famoso fotógrafo americano William Klein a imortalizou em preto e branco.

- 'Cantar não é algo natural' -

"Quando Mick Jagger disse que eu representava seu ideal feminino, oh, là, là... Essa frase acabou com minha imagem de jovem ingênua com um físico pouco atraente", comentou certa vez.

"Cantar não era algo natural para mim", reconheceu anos depois.

Sua grande história de amor foi com Jacques Dutronc, outra estrela dessa geração rebelde. Juntos tiveram seu filho Thomas, que também se tornaria cantor.

Dutronc foi infiel (entre outras, com a atriz Romy Schneider) e o casal acabou se separando, embora vivessem no mesmo prédio.

Essa experiência agridoce impregna toda sua obra. Ela compôs "Message personnel" em 1973, mais um grande sucesso.

Como outras estrelas francesas, Hardy aproveitou sua popularidade internacional para se aventurar em outras línguas. Em espanhol, lançou duas músicas em 1970: "El teléfono corté" e "Sol", de pouco sucesso.

No ano seguinte, lançou o álbum "La question", realizado em colaboração com a guitarrista brasileira Tuca.

"Durante toda a minha vida, busquei belas melodias. Ouvi-las me leva ao êxtase", explicou Hardy em uma entrevista à AFP em 2018.

"As canções melódicas mais belas são sempre melancólicas ou românticas", acrescentou.

Sua tortuosa relação com Dutronc foi oficializada em 1981, quando se casaram, embora iriam se separar novamente anos depois.

Ela encerrou sua carreira musical em 1988, mas nos anos 2000 voltou a retomá-la, apoiada por estrelas de sua geração.

Aficionada por astrologia, foi diagnosticada com um primeiro câncer em 2004. Embora tenha se curado, sofreu outros tipos de câncer nos anos seguintes.

"A morte afeta apenas o corpo. Ao morrer, o corpo libera a alma. Mas, de qualquer forma, a morte do corpo é uma prova considerável, e eu a temo, como todo mundo", confessou à AFP em 2018.

C.Conti--PV