Com desaceleração da economia nos EUA, Fed foca na inflação
Nuvens pesadas pairam sobre a economia dos Estados Unidos, mas o Federal Reserve (Fed, banco central), que se reunirá esta semana, mantém o rumo de sua estratégia, apesar da tempestade que se avizinha no horizonte, e pretende continuar tentando domar a inflação.
A prioridade do Fed, cujo comitê de política econômica deliberará nesta terça (2) e quarta-feira, é evitar que as expectativas de inflação se consolidem e seja impossível reconduzi-la à meta planejada, ou que o custo econômico seja ainda maior.
"A grande pergunta é se, e com qual velocidade, a inflação continuará sua trajetória descendente para nossa meta de 2%", declarou, em 21 de abril, uma das governadoras do Fed, Lisa Cook.
Por ora, o Fed tem escolhido responder de forma rápida e enérgica, subindo os juros de um intervalo de 0% a 0,25% até outro de 4,75% a 5% em pouco mais de um ano; às vezes com fortes aumentos, de até 0,75 ponto percentual.
O presidente do Fed, Jerome Powell, nunca escondeu que "o caminho para que a inflação volte a 2% será longo e pode ter solavancos".
Os sinais de desaceleração da maior economia mundial são diversos, começando pelo crescimento, que foi de apenas de 0,3% no primeiro trimestre em comparação com o trimestre anterior, e de 1,1% em estimativa anual.
A maioria dos analistas adverte que a probabilidade de recessão aumentou significativamente e, inclusive, que ela pode ser mais forte do que está previsto.
"Nossos dados nos fazem pensar que o endurecimento monetário e as tensões recentes no sistema bancário levarão a uma leve recessão, porém mais forte do que havíamos antecipado", declarou à AFP Ryan Sweet, economista-chefe da Oxford Economics.
O endurecimento da política monetária é agora real. Embora as taxas de juros estivessem subindo, o juro real, que leva em conta a inflação, mantinha-se negativo. Contudo, isso já não está acontecendo mais.
A inflação de março caiu para 4,2%, segundo o índice PCE, que é o levado em conta pelo Fed, ou seja, inferior à taxa básica de juros, que está entre 4,75% e 5%.
- Poucas dúvidas -
Ao mesmo tempo, a situação do setor financeiro não melhorou desde a última reunião do Fed em março.
Após a falência dos bancos SVB e Signature Bank, os Estados Unidos embargaram e depois venderam ao JPMorgan Chase o First Republic, o segundo maior banco em termos de ativos a entrar em colapso na história dos Estados Unidos.
Os bancos quebraram após uma fuga de depósitos, na medida em que o valor de seus ativos caía e os clientes sacavam dinheiro em meio ao aumento das taxas de juros.
A maioria dos bancos regionais sofreu com a perda de receita líquida por decorrência dos juros, ou seja, a diferença entre os juros que ganham ao conceder crédito e os que são pagos aos investidores que depositam.
Os problemas do setor marcam até que ponto os bancos, em particular os médios, começam a sofrer as consequências das altas taxas de juros.
Esse panorama pode levar a "um aperto das condições de crédito para particulares e empresas, o que poderia desacelerar a atividade econômica e a geração de emprego", declarou, em 20 de abril, Patrick Harker, presidente do braço do Fed na Filadélfia.
Esse é o objetivo do Fed, como destacou Powell após a última reunião, em 22 de março, considerando que esse aperto do crédito pode ter o mesmo efeito de um aumento dos juros.
O Fed continuará, então, subindo as taxas? Há poucas dúvidas no mercado de que sim, e espera-se que suba mais 0,25% na quarta-feira. Nenhuma das últimas declarações dos diretores do banco central faz com que se espere o contrário.
Embora a inflação tenha caído fortemente em março, o núcleo da inflação, ou seja, que exclui preços de alimentos e energia, caiu mais lentamente, para 4,6%, e já supera a inflação geral (4,2%).
Na quinta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) pediu aos bancos centrais europeus que "matassem o demônio" da inflação e que não se sentissem tentados a dar "um respiro", sob pena de gerar "um segundo estrago na economia".
Essa lógica é a mesma do outro lado do Atlântico Norte, especialmente quando o desemprego segue baixo, o que permite ao Fed se concentrar apenas na luta contra a inflação.
E.Magrini--PV