Pallade Veneta - Erdogan diante da grave situação da economia turca

Erdogan diante da grave situação da economia turca


Erdogan diante da grave situação da economia turca
Erdogan diante da grave situação da economia turca / foto: Adem ALTAN - AFP

A economia da Turquia enfrenta uma situação difícil, com inflação elevada e a desvalorização da lira turca, afirmam analistas, que não acreditam em uma solução sem a mudança de política e adoção de medidas dolorosas.

Alterar tamanho do texto:

O presidente Recep Tayyip Erdogan, reeleito no domingo, anunciou bilhões de dólares em promessas de campanha e gastou dezenas de milhões para manter uma certa estabilidade da lira turca durante antes das eleições.

"O momento da verdade pode estar próximo para a economia da Turquia", advertiu na segunda-feira a empresa Capital Economics.

Antes estimulada pela mão de obra barata e por um sistema bancário eficiente, a economia turca enfrenta, hoje, as consequências das medidas governamentais.

O presidente Erdogan iniciou uma campanha contra as taxas de juros elevadas que, segundo ele, são promovidas por um "lobby" estrangeiro. O chefe de Estado chegou a citar os preceitos do Islã que proíbem a usura.

- Desvalorização da lira -

Para vencer a batalha, desafiou os presidentes do Banco Central da Turquia. Os resultados foram desastrosos: a lira turca desvalorizou de maneira expressiva, e a inflação chegou a 85% no fim do ano passado,

O "milagre econômico" turco dos anos 2000, durante a primeira década de Erdogan no poder, chegou ao fim.

Os investidores estrangeiros abandonaram o país, assustados com os riscos de instabilidade e pelo controle das instituições, antes administradas por tecnocratas de carreira.

"Calculamos que a aquisição de títulos por parte de estrangeiros caiu quase 85% na comparação com 2013. E, desde então, a lira desvalorizou quase 90% em comparação com o dólar", afirmou Bartosz Sawicki, da consultoria Conotoxia.

O problema mais urgente é o fato de o Banco Central da Turquia estar ficando sem liquidez.

A instituição gastou quase 30 bilhões de dólares para sustentar a cotação da lira desde 1º de janeiro, o que levou as reservas cambiais do país ao terreno negativo pela primeira vez desde 2002.

"A atual configuração simplesmente não é viável", opinou Timothy Ash, analista da BlueBay.

- Competitividade nas exportações -

Os economistas propõem duas soluções: elevar as taxas de juros, ou permitir a desvalorização da lira, porque as medidas de apoio monetário anularam a vantagem das taxas de juros reduzidas para os exportadores turcos.

Para os analistas do grupo Allianz, a taxa de câmbio efetiva da lira "valorizou quase 35% desde que a orientação heterodoxa da política monetária entrou em vigor, em dezembro de 2021".

"Será necessário o retorno a um regime cambial flutuante para restabelecer a competitividade das exportações turcas", destacaram.

Muitos analistas preveem uma queda da lira no próximo mês, uma desvalorização que afetará, em particular, o poder de compra dos turcos e que pode obrigar o governo a destinar bilhões de dólares para as medidas de apoio às famílias, além de suas muitas promessas eleitorais.

Um aumento expressivo nas taxas de juros poderia ajudar a quebrar o círculo vicioso, mas o presidente Erdogan descartou a possibilidade durante a campanha.

Atilla Yesilada, da consultoria Global Source Partners, teme que o Banco Central turco recorra à impressão de dinheiro para financiar os aumentos de salários e das pensões dos funcionários públicos prometidos por Erdogan antes das eleições.

- Reconstrução após o terremoto -

Ao mesmo tempo, a Turquia precisa financiar a reconstrução das regiões afetadas pelo terremoto de 6 de fevereiro, que deixou 50.000 mortos e provocou danos calculados em mais de 100 bilhões de dólares.

"Como o governo financiará o esforço de reconstrução sem imprimir dinheiro e provocar uma hiperinflação? É uma pergunta que ninguém quer responder", afirmou Yesilada.

Para os analistas, o governo turco não terá outra opção e precisará aumentar as taxas de juros.

Emre Peker, do centro de estudos Eurasia, acredita que a Turquia tentará primeiro conter a demanda por dólares com "medidas macroprudenciais e controles de capital".

O presidente Erdogan também pode acabar sendo forçado a abandonar sua política contra as taxas de juros.

"Mas um aumento dos juros reduzirá a base de capital dos bancos, que não poderão conceder empréstimos por muito tempo", advertiu Yesilada.

A.Graziadei--PV