Putin envia 'condolências' após acidente de avião fatal do chefe do grupo Wagner
O presidente russo, Vladimir Putin, expressou nesta quinta-feira (24) suas "condolências" pelo acidente fatal de um avião em que, segundo seu governo, estava a bordo o chefe do grupo paramilitar Wagner.
"Ele era um homem com um destino complicado, que cometeu erros graves em sua vida, mas que alcançava os resultados que buscava", afirmou Putin em um pronunciamento televisionado, no qual também apresentou suas "sinceras condolências" aos familiares das vítimas do acidente.
A autoridade de aviação russa indicou que Prigozhin e outras nove pessoas estavam na lista de passageiros da aeronave, que caiu perto de Moscou na quarta-feira. Nenhum passageiro sobreviveu, mas as autoridades ainda não identificaram os corpos.
A declaração de Putin, ao falar no passado sobre o controverso empresário, foi a primeira reação do Kremlin à aparente morte do líder do Wagner.
Um dos principais aliados de Putin, o líder checheno Ramzan Kadirov, foi mais explícito sobre o destino de Prigozhin.
"Sua morte é uma grande perda para todo o Estado", embora nos últimos tempos "ele não tivesse ou não quisesse ter uma visão abrangente do que estava acontecendo no país", disse.
O acidente ocorreu dois meses após o fracassado levante do grupo paramilitar de Prigozhin contra o Estado-Maior Russo, alimentando especulações de um possível assassinato orquestrado pelo Kremlin.
Putin prometeu investigar "a fundo" o acidente, cujas circunstâncias ainda são confusas. As autoridades russas mencionaram uma "violação das regras de segurança do transporte aéreo", sem dar mais detalhes.
- Tribunal "alternativo" -
Nesta quinta-feira, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, garantiu que seu país não tem "nada a ver" com o ocorrido.
"Há um tribunal em Haia, há um tribunal perante Deus. Mas a Rússia tem um (tribunal) alternativo: o presidente Putin", acrescentou Zelensky ao ser questionado novamente sobre o acidente.
Entre as supostas vítimas fatais estaria Dmitri Utkin, o braço direito de Prigozhin. O ex-oficial do serviço de inteligência militar russo era o comandante de operações do Wagner.
Na cidade de Kujenkino, perto da qual o avião caiu, um morador, Vitali, contou ter "ouvido um 'boom'". "Olhei para cima e vi um avião com fumaça branca por cima", disse em um vídeo transmitido pelo canal Fontanka.
Nas redes sociais, várias contas próximas ao grupo Wagner - que não tem endereço online oficial - mencionaram a hipótese de lançamento de um míssil terra-ar para explicar o incidente.
Já o Pentágono considera que não dispõe "de qualquer informação que permita pensar que tenha sido um míssil terra-ar" o responsável pela queda do avião, declarou à imprensa nesta quinta-feira o porta-voz do Departamento de Defesa americano, Pat Ryder.
Na quarta-feira à noite, várias pessoas se reuniram diante da sede do grupo Wagner em São Petersburgo e depositaram cravos vermelhos, velas e símbolos do grupo, com uma caveira, na frente do prédio.
Na Ucrânia, onde o grupo paramilitar lutou por muito tempo, houve quem se alegrasse com a suposta morte.
"Talvez isto dê um impulso a acontecimentos desestabilizadores" na Rússia, disse Iryna Kushina, uma autoridade entrevistada pela AFP em Kiev.
- Dúvidas razoáveis -
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou: "Não há muita coisa que aconteça na Rússia que Putin não esteja por trás".
A ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, ironizou a causa da morte do líder paramilitar, declarando que "a taxa de mortalidade das pessoas próximas à Putin é particularmente alta".
"Não é uma coincidência que todos os olhares estejam voltados para o Kremlin quando um ex-aliado de Putin, em desgraça, cai literal e subitamente do céu dois meses após uma rebelião", disse a chefe da diplomacia da Alemanha, Annalena Baerbock.
Em 24 de junho, o chefe do grupo liderou um motim contra o Estado-Maior russo e o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, assumindo o controle de quartéis do sul da Rússia e iniciando uma marcha em direção a Moscou.
Durante a tentativa de motim em junho, que durou 24 horas, Putin não escondeu a irritação e acusou Prigozhin de "traição".
Mas a rebelião foi interrompida no mesmo dia, após um acordo que previa a viagem de Prigozhin a Belarus e a adesão dos milicianos do grupo Wagner ao exército oficial russo.
Apesar do pacto, o fundador do grupo paramilitar continuou viajando para a Rússia e chegou a visitar o Kremlin.
Na segunda-feira, Prigozhin apareceu em um vídeo divulgado por grupos próximos ao Wagner, no qual afirmou que estava na África para tornar a "Rússia ainda maior".
I.Saccomanno--PV