Conservadores britânicos enfrentam difícil equação orçamentária
O salário mínimo aumentará no próximo ano no Reino Unido, mas não haverá cortes imediatos de impostos, anunciou o ministro britânico da Fazenda, Jeremy Hunt, nesta segunda-feira (2), no congresso do partido conservador no poder, em Manchester.
Em seu discurso aos delegados de seu partido para explicar os motivos pelos quais não pode baixar ainda as taxas, Hunt disse que enfrenta uma equação difícil de resolver, que inclui uma alta inflação e um contexto orçamental limitado.
Atrás do Partido Trabalhista nas pesquisas, conforme se aproximam as eleições legislativas que devem ser realizadas antes de janeiro de 2025, os conservadores multiplicam os anúncios no congresso anual de seu partido.
“O trabalho deve dar seus frutos e garantiremos que seja assim”, declarou Hunt. “É a forma com que o Partido Conservador melhora a vida dos trabalhadores”, acrescentou.
O salário mínimo é hoje de 10,42 libras (64,05 reais na cotação atual) por hora. A partir de abril de 2024, vai subir para 11 libras (67,57 reais).
Mas essa concessão nos salários vem acompanhada de um endurecimento das condições de acesso aos benefícios sociais, a fim de estimular o retorno dos desempregados ao mercado de trabalho.
“Não é justo que alguém que rejeita claramente um emprego receba o mesmo que alguém que o busca”, defendeu Hunt.
Diante de uma inflação que, embora em baixa, segue sendo a maior do G7, com 6,7% anual em agosto, o ministro resistiu nesta segunda à pressão de seu próprio partido para que prometa uma redução de impostos antes das eleições.
Hunt afirmou que a diminuição da inflação seria mais eficaz para aumentar o poder de compra dos britânicos.
Também deu a entender que o Estado poderia poupar congelando o número de funcionários, antes de reduzi-lo, e aumentar a eficácia dos serviços públicos, o que poderia permitir, por fim, um alívio na pressão fiscal.
- Ortodoxia orçamentária -
“Este governo conservador está determinado a colocar o país em uma queda de impostos quando for possível”, mas “se fizermos fortes reduções agora, isso colocaria mais dinheiro nos bolsos das pessoas” e alimentaria a inflação, resumiu o ministro ao canal Sky News.
Paladino da ortodoxia orçamentária, Hunt entrou no governo há quase um ano para tranquilizar os mercados, depois que o projeto de orçamento com gastos massivos e sem financiamento apresentado por Liz Truss causou pânico e disparou a dívida do governo britânico.
Mas as taxas de endividamento, ainda que tenham caído, depois voltaram a subir, de forma menos brusca, mas regular, por consequência do ajuste do Banco da Inglaterra para acalmar a inflação.
Alguns economistas estimam que não será possível evitar uma recessão este ano, sobretudo porque a atividade econômica encolheu em setembro no ritmo mais rápido observado desde janeiro de 2021, segundo o indicador PMI Flash Composite, enquanto a taxa de desemprego está aumentando.
Em paralelo, o ministro da Fazenda enfrenta questões incessantes sobre o futuro de uma linha ferroviária de alta velocidade, devido a temores de que esse grande projeto seja novamente cortado. Seus custos cresceram ao longo de uma década e já precisaram ser reduzidos antes.
I.Saccomanno--PV