Venezuela insta Guiana a rejeitar 'interferência' de terceiros em disputa por Essequibo
A Venezuela instou a Guiana, nesta quinta-feira (25), a rejeitar a interferência de terceiros na disputa pelo Essequibo, após uma reunião de ministros das Relações Exteriores em Brasília para discutir a crise sobre este território rico em petróleo.
"Rejeitemos categoricamente a possibilidade de que terceiras partes possam interferir ou se beneficiar de uma eventual discussão ou controvérsia entre Guiana e Venezuela", disse o chanceler venezuelano, Yván Gil, ao término do encontro com seu par da Guiana, Hugh Hilton Todd.
As tensões entre os dois países, que despertaram o temor de um conflito armado na região, aumentaram no fim de 2023, com a chegada de um navio de guerra britânico a águas guianesas.
A Venezuela viu essa manobra como uma provocação e mobilizou mais de 5.600 homens em exercícios militares perto da fronteira em disputa.
Para Caracas, o Essequibo, com 160.000 km², rico em recursos naturais e administrado pela Guiana, faz parte de seu território desde que era colônia da Espanha.
A reunião em Brasília foi a primeira desde que os presidentes Nicolás Maduro e Irfaan Ali estiveram frente a frente em 14 de dezembro na ilha caribenha de São Vicente e Granadinas, em uma primeira tentativa de acalmar a situação.
Gil destacou a importância de desenvolver "um roteiro" para solucionar a disputa territorial pela via diplomática e instou seu vizinho a "reafirmar que nenhuma das partes recorrerá a menções de ameaças nem invocação do uso da força".
Foi "uma discussão muito franca, muito aberta, sem limitações", assinalou o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, após o encontro.
- A agenda -
Para resolver a controvérsia, Caracas recorre ao Acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que fixou as bases para uma solução negociada e anulou uma decisão de 1899.
Além disso, esse laudo determinou as fronteiras, sobre as quais Georgetown pede a ratificação da Corte Internacional de Justiça (CIJ).
Embora se trate de um litígio centenário, a disputa se acirrou em 2015, quando a petroleira americana ExxonMobil descobriu grandes reservas de petróleo na região.
As tensões se acentuaram após a celebração de um referendo sobre a soberania de Essequibo em 3 de dezembro na Venezuela, que impulsionou a criação de um estado formal neste território, visto por Georgetown como uma tentativa de anexação. Maduro criou ainda uma zona militar para esta área de 125.000 habitantes.
Para Iván Rojas, internacionalista venezuelano, o encontro estava destinado a manter o "diálogo aberto", mas sem negociações a esse respeito.
Gil assegurou ontem que a agenda de trabalho passava por "canalizar todas as conversas no âmbito deste acordo" de Genebra e "rever tudo o que está relacionado a este acordo internacional, especialmente nos espaços marítimos que não foram delimitados".
Georgetown insistiu que estas reuniões não servem para discutir a disputa territorial, que deixa para a CIJ. Ali disse antes que a reunião serviria para delinear uma agenda com questões relacionadas ao "comércio, clima, segurança energética... melhorar a nossa relação de vizinhança".
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R.Zaccone--PV