Sob pressão dos EUA, bancos chineses adotam cautela em transações com a Rússia
Assustados com as ameaças de sanções americanas, os bancos chineses se mostraram mais prudentes nos últimos meses em suas transações com a Rússia, apesar da amizade "sem limites" apregoada pelos líderes de Moscou e Pequim.
Poucos dias antes da visita do presidente russo, Vladimir Putin, à China, na quinta e sexta-feira (16 e 17 de maio), as relações diplomáticas e comerciais entre os dois países se deparam com um obstáculo financeiro.
Em dezembro, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou um decreto que autoriza as sanções secundárias contra bancos estrangeiros ligados à máquina de guerra russa.
Na prática, isso significa que o Tesouro americano pode exclui-los do sistema financeiro mundial, baseado no dólar.
Desde então, diversos bancos chineses interromperam ou reduziram suas transações com clientes russos, segundo oito pessoas dos dois países envolvidos no comércio bilateral.
"Atualmente é difícil fazer entrar o dinheiro procedente da Rússia", assegura um empresário chinês dedicado ao comércio atacadista no setor têxtil diante de sua loja no centro de Pequim.
"Os bancos não dizem por que (...) mas sem dúvida é pela ameaça dos Estados Unidos", acrescenta.
Os comerciantes entrevistados pela AFP asseguram que os bancos impõem controles adicionais às transações entre os dois países. Às vezes, o processo demora meses, o que afeta especialmente a liquidez das pequenas e médias empresas.
Outro comerciante afirma à AFP, sob condição de anonimato, que se viu obrigado a encerrar suas atividades na China e voltar para a Rússia pela "impossibilidade de receber dinheiro dos clientes".
O comércio entre China e Rússia aumentou desde o início da invasão da Ucrânia e em 2023 superou os 240 bilhões de dólares (1,2 trilhão de reais), segundo o governo chinês, o que representa um aumento de 25% em ritmo anual.
Se os bancos da China rejeitarem os pagamentos procedentes da Rússia, os efeitos sobre a economia de Moscou podem se tornar relevantes.
A China importa gás e petróleo do país vizinho, "quase 50% do petróleo russo", segundo o Kremlin. Por sua vez, a Rússia importa componentes eletrônicos necessários tanto para a indústria civil como para a militar.
As dificuldades nos pagamentos coincidiram com uma queda das exportações chinesas para a Rússia em março e abril.
"Embora as sanções tenham sido impostas para as exportações de alguns produtos da China, elas têm impacto no restante do comércio", afirma Pavel Bazhanov, um advogado que trabalha para empresas russas na China.
A imprensa russa abordou a situação e o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, criticou "as pressões sem precedentes" dos Estados Unidos.
Pequim não confirma publicamente o problema, mas o Ministério das Relações Exteriores afirmou à AFP ser contra "as sanções americanas unilaterais e ilegais".
O.Pileggi--PV