Trump irrita México e Canadá com ameaça de tarifas de 25%
A migração e o consumo de drogas não serão resolvidos "com ameaças", advertiu nesta terça-feira (26) o México, de forma muito contundente, a Donald Trump, depois de o presidente eleito dos EUA anunciar que vai impor tarifas de 25% ao seu vizinho do sul e também ao Canadá, onde a notícia causou comoção.
O republicano já havia avisado, horas antes de ganhar as eleições presidenciais, que sancionaria o México e o Canadá com tarifas altíssimas se estes não freassem a entrada ilegal de migrantes e o narcotráfico.
Seu retorno à Casa Branca, em 20 de janeiro, assusta os vizinhos e ameaça criar um turbilhão político e comercial.
"Presidente Trump, não é com ameaças ou tarifas que você vai parar o fenômeno da imigração, nem o consumo de drogas nos Estados Unidos", afirmou a presidente do México, Claudia Sheinbaum, ao ler uma carta que enviará ainda nesta terça-feira a Trump.
O magnata de 78 anos anunciou em sua rede, Truth Social, que vai impor tarifas de 25% às importações do México e do Canadá até que a "invasão" de drogas e "migrantes ilegais" seja interrompida, além de um adicional de 10% sobre as tarifas já existentes aos produtos da China.
Na carta, a presidente mexicana de esquerda sustenta que a política migratória de seu país permitiu reduzir em 75% o número de interceptações de migrantes de dezembro de 2023 a novembro de 2024, segundo números oficiais dos Estados Unidos.
Sheinbaum garante que metade destes migrantes chega com uma permissão obtida legalmente através do aplicativo móvel americano CBP One.
As interceptações de migrantes caíram principalmente desde junho, quando o presidente democrata Joe Biden decidiu fechar a fronteira com o México para migrantes que solicitam asilo, quando ultrapassado o limite de cruzamentos irregulares.
Trump não quer apenas fechar a fronteira para migrantes, mas também pretende deportá-los em massa e derrubar as regras que permitem sua entrada legal, incluindo o aplicativo CBP One.
"Essa tarifa permanecerá em vigor até que as drogas, em particular o fentanil, e todos os migrantes ilegais parem essa invasão ao nosso país", escreveu o bilionário, que promete manter uma relação tensa com Sheinbaum.
- "Problema de consumo" -
Na carta, ela atribui a "epidemia" de fentanil nos Estados Unidos a "um problema de consumo e de saúde pública" e assegura que o México intervém "por razões humanitárias".
Uma afirmação que vai incomodar o presidente eleito, que atribui as dezenas de milhares de mortos por overdose deste opioide sintético em seu país aos cartéis de drogas mexicanos.
A mandatária mexicana aproveita a carta para abordar outro tema de discórdia.
"70% das armas ilegais apreendidas de criminosos no México vêm do seu país. As armas não são produzidas por nós, as drogas sintéticas não são consumidas por nós. As vítimas da criminalidade para atender à demanda de drogas em seu país, infelizmente, são nós quem colocamos", destaca.
Ainda assim, estende a mão ao seu principal parceiro comercial, defendendo a "cooperação e entendimento mútuo".
O Canadá também tenta apaziguar as tensões com o republicano.
O primeiro-ministro, Justin Trudeau, garantiu ter falado com Trump "sobre os laços intensos e frutíferos" entre os dois países e sobre "os desafios" nos quais podem "trabalhar juntos".
- "Ninguém vai ganhar" -
A China já vem antecipando há semanas o que está por vir.
Trump prevê cobrar uma tarifa adicional de 10% sobre todas as importações chinesas, além daquelas já existentes, até que a China imponha a pena de morte aos narcotraficantes que traficam aos Estados Unidos. Trata-se, segundo ele, de uma promessa não cumprida.
Exige ainda que o gigante asiático intervenha para frear a entrada de drogas, especialmente o fentanil fabricado, segundo Washington, com substâncias provenientes do país asiático.
"A ideia de que a China permite conscientemente a entrada dos precursores do fentanil nos Estados Unidos vai contra os fatos e a realidade", afirmou Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa em Washington.
"Ninguém vai ganhar com uma guerra comercial", acrescentou.
O governo chinês e Biden tentam administrar sua rivalidade de forma responsável, segundo suas palavras, mas resta saber o que acontecerá com os EUA sob as ordens de Trump.
O Ministério das Relações Exteriores da China, por enquanto, declara-se aberto "a manter o diálogo e a comunicação".
N.Tartaglione--PV