Os riscos da ameaça tarifária de Trump
As novas tarifas anunciadas por Donald Trump ao Canadá e ao México ameaçam os preços dos automóveis e materiais de construção, apontaram analistas nesta terça-feira (26).
Além disso, o aumento de impostos com que ele ameaça a China poderia fazer subir a inflação nos Estados Unidos, dependentes da segunda maior economia do mundo para eletrônicos e baterias.
Seguem abaixo os bens mais expostos:
- México: alimentos, automóveis -
Em 2023, o México ultrapassou a China como maior parceiro comercial dos Estados Unidos. Oitenta por cento das exportações mexicanas são destinadas ao vizinho do norte, segundo fontes oficiais.
Os Estados Unidos importam US$ 484,5 bilhões (R$ 2,8 trilhões) em bens do México. Uma tarifa de 25% afetaria o setor automobilístico, bem como instrumentos e dispositivos médicos. Segundo o pesquisador do Instituto Peterson de Economia Internacional Gary Hufbauer, o custo dos veículos poderia aumentar 10%.
Uma parte significativa do comércio norte-americano acontece entre Estados Unidos, México e Canadá, com produtos que cruzam as fronteiras várias vezes, o que significa que "inclusive as tarifas mais baixas se acumulam", apontou o pesquisador da Brookings Institution Joshua Meltzer.
Os produtos agrícolas também seriam afetados. Em 2023, o México forneceu mais de 60% das importações americanas de vegetais, e quase metade das de frutas frescas e secas, segundo o Departamento de Agricultura.
Os custos adicionais de importação de frutas e vegetais frescos do México poderiam ter impacto no bolso do consumidor, alertou Hufbauer.
- Canadá: energia, construção -
Os laços comerciais entre os Estados Unidos e o Canadá são significativos, principalmente nos mercados energético e automobilístico, informou em julho o Congressional Research Service (CRS).
Quase 80% das exportações de mercadorias do Canadá em 2023 tiveram como destino os Estados Unidos, enquanto cerca da metade de suas importações foram procedentes do país.
O Canadá também é um grande fornecedor de energia para os Estados Unidos, incluindo petróleo, gás natural e eletricidade, acrescentou o CRS.
Segundo o economista da Oxford Economics Ryan Sweet, uma tarifa de 25% sobre os bens canadenses poderia afetar os combustíveis importados, com o risco de um aumento dos preços. "As eleições de meio de mandato de 2026 não estão tão distantes, e os eleitores não esquecem a inflação", comentou.
Os Estados Unidos também importam materiais de construção do Canadá, e as tarifas poderiam elevar o custo da habitação, acrescentou Sweet.
- China -
Segundo o Atlantic Council, os bens de consumo, como smartphones e computadores, juntamente com as baterias de lítio e outros produtos, representaram quase 30% das importações americanas de bens procedentes da China em 2023.
"A participação chinesa nas importações americanas de baterias aumentou desde 2017", ressaltou neste mês, apesar da guerra comercial durante o primeiro mandato de Trump, durante a qual ele impôs tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em importações da China.
Meltzer acredita que Pequim vai se mostrar disposta a discutir as preocupações americanas sobre o fentanil (motivo declarado por Trump para as tarifas), mas não espera que ela faça concessões, para evitar dar sinais de que vai "capitular cada vez que os Estados Unidos aumentarem as tarifas".
- Acordos ameaçados -
Hufbauer espera que Trump dê uma margem antes de impor novas tarifas ao Canadá e ao México, o que permitiria negociar e evitar represálias. "Dada a sua grande dependência dos Estados Unidos, eles estarão inclinados a fazer o que puderem para chegar a um acordo", disse à AFP.
Além disso, as tarifas de Trump seriam incompatíveis com o acordo comercial entre os Estados Unidos, o México e o Canadá, que o republicano descreveu anos atrás como o melhor da História, acrescentou Meltzer.
A.Fallone--PV