Rússia denuncia incursão de sabotadores horas depois de bombardeio na Ucrânia
A Rússia reconheceu, nesta segunda-feira (22), que está combatendo um grupo de sabotadores ligado à Ucrânia, horas depois de Kiev ter informado sobre um bombardeio noturno russo que deixou momentaneamente a usina nuclear de Zaporizhzhia sem energia.
O governador da região russa de Belgorod, Viacheslav Gladkov, informou que duas pessoas ficaram feridas em um bombardeio na cidade de Glotovo e que há outros três feridos em Graivoron e um em Zamostie.
Essa operação ilustra as aparentes dificuldades de Moscou para garantir a segurança de sua fronteira nas regiões limítrofes com a Ucrânia, onde, nas últimas semanas, foi registrado um número crescente de ataques.
Gladvok anunciou que "um regime legal antiterrorista foi introduzido" na região para garantir a segurança dos cidadãos.
Esse regime dá poderes às forças de segurança, permitindo a aplicação de medidas como o reforço dos controles de identidade, de veículos e das comunicações, assim como maior facilidade para realizar operações "antiterroristas".
A incursão ocorre depois de a Rússia ter reivindicado, no fim de semana, a tomada de Bakhmut, cidade no leste da Ucrânia que foi cenário da batalha mais feroz e sangrenta desde que o conflito começou, em fevereiro de 2022.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, desmentiu que suas forças tenham perdido a região e afirmou que seu exército ainda controla uma pequena faixa e que segue pressionando as tropas russas ao norte e ao sul da cidade.
O grupo paramilitar russo Wagner afirmou, por sua vez, que suas forças preveem se retirar de Bakhmut entre 25 de maio e 1º de junho, cedendo suas posições ao exército regular.
Nesta segunda, as autoridades russas reportaram que "um grupo de sabotagem e reconhecimento" vindo da Ucrânia entrou no distrito de Graivoron, na região de Belgorod.
"As forças armadas russas, junto dos guardas fronteiriços, a Rosgvardia (guarda nacional) e o FSB (serviços de segurança) implementam todas as medidas necessárias para liquidar o inimigo", informou o governador da região de Belgorod, Viacheslav Gladkov, pelo Telegram.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse aos jornalistas que o presidente Vladimir Putin foi informado da incursão. Ele também reportou que essa operação é uma tentativa da Ucrânia de "desviar a atenção", após a perda do controle de Bakhmut.
A presidência ucraniana, no entanto, assegurou que "não tem nada a ver" com a incursão, mas que acompanha a situação com "interesse".
- "A ditadura do Kremlin" -
A incursão foi reivindicada em um canal de Telegram por uma conta que diz pertencer à "Legião Liberdade para a Rússia", um grupo de russos que combatem ao lado da Ucrânia, e que já reivindicou operações anteriores na mesma região.
"Chegou o momento de pôr fim à ditadura do Kremlin", afirmou, em um vídeo divulgado no canal, um homem que, em dezembro, se apresentou à AFP como "César", porta-voz do grupo. Esse homem foi definido pelos meios de comunicação como um ex-neonazista de direita, que em 2014 passou para o lado da Ucrânia.
Segundo o canal, o grupo "libertou totalmente" uma vila da região de Belgorod e atacou um segundo local.
As autoridades ucranianas, por sua vez, afirmaram ter repelido - ao menos parcialmente - um ataque aéreo russo sem precedentes lançado durante a noite com mísseis e drones contra a cidade de Dnipro, no centro-oeste do país.
Segundo as autoridades regionais, sete pessoas ficaram feridas. O prefeito de Dnipro, Boris Filatov, disse que "nunca havia tido um bombardeio (contra a cidade) dessa intensidade", desde o início da ofensiva russa.
- Corte de energia na central de Zaporizhzhia -
Segundo as autoridades ucranianas, o bombardeio russo também provocou um corte temporário de energia na usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, que é ocupada pelos russos desde o início do conflito.
Essa central sofreu vários bombardeios e essa é a sétima vez que fica sem acesso à rede elétrica.
A usina está fechada atualmente e não está produzindo eletricidade, mas a edificação necessita de energia para atender à sua própria demanda, incluindo a refrigeração de seus seis reatores.
Nas últimas semanas, enquanto é preparada uma grande contraofensiva ucraniana, o território russo foi alvo de um número crescente de sabotagens e ataques, que Moscou atribui a Kiev e que a Ucrânia nega.
No campo diplomático, Zelensky participou durante o fim de semana da cúpula do G7 no Japão, onde os países do grupo das sete economias mais industrializadas do planeta fizeram novas promessas de entrega de material militar a Kiev.
D.Vanacore--PV