Estados Unidos na antessala de uma nova era Trump
Seus adversários pediam para que os eleitores virassem a página, mas será Donald Trump quem assinará o próximo capítulo da história dos Estados Unidos na Casa Branca, após uma vitória eleitoral esmagadora sobre Kamala Harris nas eleições presidenciais.
A vice-presidente democrata telefonou para seu adversário para cumprimentá-lo por sua vitória quatro anos depois de perder para Joe Biden, uma derrota que nunca reconheceu.
"O presidente Trump reconheceu à vice-presidente [Kamala] Harris sua determinação, profissionalismo e perseverança ao longo da campanha", afirmou Steven Cheung sobre a candidata democrata.
Biden, "parabenizou" Donald Trump e o "convidou" para ir à Casa Branca. Na quinta-feira, o democrata "discursará à nação" para abordar os resultados das eleições e o período de transição.
Com a contagem ainda pendente em quatro estados, o candidato republicano soma 292 votos no colégio eleitoral contra 224 da sua rival, a vice-presidente democrata, que já cumprimentou seu adversário em uma ligação telefônica. Trump precisava de 270 para vencer.
Foi uma vitória extraordinária após uma campanha na qual ele foi alvo de duas tentativas de assassinato, quatro acusações e uma condenação criminal.
Os americanos esperavam que o resultado demorasse talvez dias e temiam uma explosão de violência caso o republicano perdesse, mas estavam enganados.
Assim como em 2016, sua vitória foi rápida. Trump venceu em dois dos sete estados-pêndulo, Geórgia e Carolina do Norte, seguidos da Pensilvânia. Wisconsin encerrou a disputa e acabou com as esperanças de Harris. Horas mais tarde, também foi anunciado o triunfo do magnata em Michigan.
De acordo com uma pesquisa de boca de urna da NBC News, latinos e afro-americanos contribuíram para a vitória votando mais no republicano do que há quatro anos.
- Ajudar o país a se "curar" -
Trump conseguiu o apoio de 45% dos eleitores latinos a nível nacional, comparado com os 53% de Harris. Em 2020, a divisão foi de 32% e 65%.
"Fizemos história", proclamou Trump, de 78 anos, aos seus apoiadores em West Palm Beach, Flórida, rodeado de sua família, incluindo sua esposa, Melania.
"Vamos ajudar nosso país a se curar", acrescentou o magnata, que conseguiu convencer os americanos de que os entende melhor do que ninguém.
Os mercados também reagiram positivamente à vitória do republicano, mesmo com sua retórica assustadora.
Trump prometeu expulsar os migrantes em situação irregular, pois afirma que "envenenam o sangue" do país.
O republicano prometeu reconquistar as cidades tomadas, segundo ele, por migrantes, e fechar a fronteira com o México para garantir que as pessoas não entrem mais sem visto. O dia da vitória será o da "libertação", afirmou.
Nesta quarta-feira, Trump declarou que eles poderão vir, mas apenas legalmente.
Tudo saiu do jeito que ele desejava porque, além de vencer as eleições presidenciais, o Partido Republicano retomou o controle do Senado dos democratas.
Com um estilo direto, sua mensagem ecoou na classe trabalhadora e no mundo rural, desiludido com as elites de Washington.
Sua volta à Casa Branca desperta alegria em milhões de apoiadores, que usam o boné vermelho com seu slogan "Make America Great Again".
- Tarifas -
O empresário já deu algumas dicas. Ele prometeu resolver a guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio, mas sem explicar como.
Cético a respeito do clima, prometeu sair novamente do Acordo de Paris e perfurar petróleo "em grande escala".
No setor comercial, ele planeja impor tarifas para "trazer de volta" as empresas ao país.
E parece especialmente preocupado com seu vizinho do sul. "Eu diria que o México é um tremendo desafio para nós, porque a China está construindo fábricas enormes de automóveis" no país e "vão vendê-los nos Estados Unidos", reclamou durante a campanha.
"Tirar os cartéis de drogas do mercado" foi outra de suas promessas.
- Musk e Kennedy -
Também preocupam suas ameaças ao que chama de "inimigo interno" e sua sede de vingança.
Muitos países, incluindo seus aliados, estão nervosos com o que pode fazer, mas o republicano já recebeu felicitações, começando por China, França e Israel. A Rússia afirmou que pretende julgar a presidência de Trump por suas "ações".
Ele cogita atribuir um cargo na administração ao homem mais rico do mundo, Elon Musk, que fez campanha para ele, e outro a Robert F. Kennedy Jr, herdeiro do clã político mais famoso dos Estados Unidos e ativista antivacina, possivelmente na área de saúde.
O homem no comando da maior potência do mundo tem 78 anos e se tornará o presidente mais velho a tomar posse.
Ao contrário de Trump, que boicotou a cerimônia de posse de Joe Biden, o presidente democrata já se comprometeu a participar do evento em 2025.
O republicano deixou a Casa Branca há quatro anos sem reconhecer a derrota.
Em 6 de janeiro de 2021, centenas de seus seguidores invadiram o Capitólio para tentar impedir a certificação da vitória de Biden.
M.Jacobucci--PV