Pallade Veneta - António Costa, um hábil negociador para buscar acordos na UE

António Costa, um hábil negociador para buscar acordos na UE


António Costa, um hábil negociador para buscar acordos na UE
António Costa, um hábil negociador para buscar acordos na UE / foto: JOHN THYS - AFP

O ex-primeiro-ministro português António Costa tem pela frente um grande teste para sua reconhecida capacidade de negociação, ao assumir o cargo de presidente do Conselho Europeu, onde deverá obter acordos entre os líderes do bloco.

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Discreto e sorridente, o socialista de 63 anos receberá a nomeação nesta sexta-feira, mas começará formalmente o mandato no domingo (1), em mais uma etapa da renovação das autoridades da União Europeia.

Como presidente do Conselho Europeu, Costa presidirá os encontros de cúpula de chefes de Estado e de Governo, conhecidos pelas reuniões intermináveis e acordos súbitos alcançados por meio de consultas diretas entre líderes.

O papel de Costa será identificar as áreas em que o interesse coletivo se sobrepõe às preocupações nacionais, além de conduzir os dirigentes a consensos, que, à primeira vista, são muito difíceis.

O seu antecessor, o belga Charles Michel, provocou situações desconfortáveis ao se apresentar como uma figura central da política da UE, mas pessoas próximas a Costa concordam que o português tem um estilo mais discreto.

Antes de assumir o cargo, Costa visitou as capitais do bloco e se reuniu com presidentes e primeiros-ministros para conhecer suas expectativas sobre questões prioritárias e métodos de trabalho.

Uma fonte do Conselho Europeu mencionou que as prioridades de gestão de Costa serão o apoio à Ucrânia em sua guerra com a Rússia, a defesa, a competitividade, a migração e o orçamento de longo prazo da UE.

Além disso, o português está interessado em manter uma relação melhor com a poderosa presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, que iniciará o segundo mandato à frente do poder Executivo do bloco.

Nos últimos cinco anos, as tensões permanentes e visíveis entre Michel e Von der Leyen afetaram o nível de cooperação nas instituições da UE.

Ex-parlamentar em seu país, ex-vice-presidente do Parlamento Europeu, Costa tornou-se primeiro-ministro de Portugal em 2015, depois de estabelecer uma aliança de esquerda.

Com a aliança, Costa mostrou toda sua capacidade para negociar acordos e construir consensos.

- Negociador hábil -

Em 2020, as habilidades de negociação de Costa desempenharam um papel central para convencer o primeiro-ministro da Hungria, o ultranacionalista Viktor Orbán, a suspender seu bloqueio ao enorme plano de recuperação econômica pós-pandemia desenvolvido pela UE.

A trajetória de Costa sofreu uma reviravolta em 2023, quando ele foi forçado a renunciar devido a uma investigação de corrupção contra seu governo. A investigação concluiu que não havia indícios de crimes por parte do então primeiro-ministro.

A conclusão reforçou a campanha de vários países, em particular do francês Emmanuel Macron e do espanhol Pedro Sánchez, que têm uma relação pessoal próxima com o português, para que ele assumisse o comando do Conselho Europeu.

Costa será a primeira pessoa de origem não europeia a assumir a presidência de uma das principais instituições do bloco. Seu pai, o escritor comunista Orlando da Costa, nasceu em Moçambique em uma família originária de Goa, uma ex-colônia de Portugal na Índia. Sua mãe, Maria Palla, é uma famosa ativista feminista em Portugal.

Costa, que nasceu em Lisboa, recebeu em 2017 do primeiro-ministro indiano Narendra Modi um documento honorário de cidadão estrangeiro da Índia, um gesto para consolidar os laços entre os dois países.

A equipe de Costa afirma que sua experiência pode ajudá-lo a construir pontes com regiões do mundo que a UE busca alcançar.

"Precisamos ter relações mais estreitas com diferentes regiões e países que sejam relevantes em um mundo que é muito mais do que o G7 ou o G20", disse Costa em uma entrevista recente.

B.Fortunato--PV