Pallade Veneta - Caos na Coreia do Sul, exemplo de fragilidade e resiliência da democracia

Caos na Coreia do Sul, exemplo de fragilidade e resiliência da democracia


Caos na Coreia do Sul, exemplo de fragilidade e resiliência da democracia
Caos na Coreia do Sul, exemplo de fragilidade e resiliência da democracia / foto: Anthony WALLACE - AFP

A breve imposição da lei marcial por parte do presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol é um exemplo da fragilidade mundial da democracia, inclusive em um país aclamado como um modelo de transformação.

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A declaração da lei marcial, que constitucionalmente pode apenas ser imposta em caso de guerras ou outras emergências, deixou atônito seu grande aliado, os Estados Unidos, que disse não ter recebido nenhum aviso prévio.

A transição da Coreia do Sul desde o levante democrático de 1987 é considerada exemplar e, desde então, o país estabeleceu-se como um parceiro global.

O presidente democrata Joe Biden inclusive escolheu Yoon como anfitrião em março de sua última Cúpula pela Democracia, uma iniciativa com a qual busca defender os valores democráticos a nível global e se diferenciar de seu rival republicano Donald Trump, que retorna à Casa Branca em 20 de janeiro.

Os observadores, embora surpresos, já viam sinais de advertência.

A oposição, que controla o Parlamento, tentava reiteradamente submeter o governo de Yoon a um julgamento político, destaca Danny Russel, um diplomata americano que atuou na Ásia durante o mandato do ex-presidente Barack Obama.

A medida "foi uma completa surpresa para mim", mas a política está "radicalmente polarizada na Coreia", com uma oposição que aplica "táticas de obstrução política de terra arrasada", declarou.

Contudo, os rápidos e maciços protestos posteriores à declaração de Yoon demonstram que a sociedade civil está disposta a defender a democracia, segundo ele.

Isto deve servir como uma "chamada de atenção tanto para o partido conservador no poder quanto para a oposição progressista, de que ambos os lados foram longe demais e que é necessário algum processo de reconciliação", afirma o diplomata.

- Tendências autoritárias -

O próprio Yoon havia mostrado anteriormente sinais de autoritarismo.

Em um discurso no ano passado, Yoon investiu contra supostos comunistas que se "disfarçaram de ativistas pela democracia, defensores dos direitos humanos e ativistas progressistas".

Yoon venceu por uma margem muito pequena as eleições de 2022 com uma plataforma de reforma econômica e defendeu a manutenção de laços estreitos com os Estados Unidos e com seu rival histórico, o Japão.

Mas sua popularidade caiu rapidamente e a oposição obteve o controle da Assembleia Nacional.

Para Celeste Arrington, especialista em Coreia da Universidade George Washington, o decreto "é realmente um movimento extremo que pode sinalizar [...] a falta de experiência política do presidente".

Na sua opinião, a lei marcial deixa à vista "algumas fissuras na democracia".

Mas a reação rápida "dá esperança na saúde, força e vitalidade da democracia" no país, esclarece.

Para Bruce Klingner, um pesquisador da conservadora Heritage Foundation, "a ação de Yoon é uma condenação a décadas de esforços sul-coreanos para deixar para trás seu passado autoritário".

Darcie Draudt-Vejares, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, acredita que "esta crise pode, em última instância, fortalecer a democracia coreana ao reafirmar o controle civil e demonstrar a resiliência institucional".

- Democracia mais forte? -

O número de democracias disparou a partir do fim da década de 1980, quando a União Soviética entrou em colapso e as revoltas lideradas por estudantes trouxeram reformas em outros lugares.

Mas, a nível global, a democracia tem retrocedido nos últimos 18 anos, segundo a Freedom House, que promove a liberdade política.

V-Dem, outro índice de democracia muito acompanhado, classificou mais recentemente a Coreia do Sul em terceiro lugar na Ásia, atrás de Taiwan e Japão.

Os líderes escolhidos democraticamente têm tomado medidas cada vez mais autoritárias em países como Índia, Turquia e Hungria.

E, nos Estados Unidos, Trump venceu as eleições de 5 de novembro, mas se negou a aceitar sua derrota nas urnas para Joe Biden há quatro anos.

E.Magrini--PV