Novo dirigente da Síria se reúne com delegação dos EUA
O novo dirigente sírio, Ahmed al Sharaa, celebrou uma reunião "positiva" nesta sexta-feira (20) com diplomatas dos Estados Unidos que chegaram a Damasco para um primeiro contato formal com o novo governo interino, dominado por islamistas radicais.
"A reunião ocorreu e foi positiva. E os resultados serão positivos, se Deus quiser", disse à AFP um funcionário do novo governo, que pediu anonimato.
Este Executivo de transição assumiu após uma aliança de insurgentes liderada pelo grupo islamista sunita Hayat Tahrir al Sham (HTS) lançar uma ofensiva-relâmpago que terminou derrubando Bashar al Asad, em 8 de dezembro.
Uma coletiva de imprensa inicialmente prevista pela delegação dos Estados Unidos, que inclui Barbara Leaf, a responsável pelo Oriente Médio do Departamento de Estado, foi cancelada por "razões de segurança", anunciou uma porta-voz americana em Damasco.
Al Sharaa, cujo nome de guerra é Abu Mohamed al Jolani, é o líder do grupo islamista radical HTS, classificado como "terrorista" por vários países, incluindo os Estados Unidos.
Após mais de 13 anos de guerra civil que deixou o país fragmentado e devastado, a vitória de uma aliança rebelde liderada pelo HTS pôs fim a meio século de poder e repressão do clã Asad.
Em um país multiétnico e pluriconfessional, a comunidade internacional está agora atenta às políticas dos novos líderes sobre as minorias e ao futuro das regiões curdas semi-autônomas do norte.
As mulheres são "absolutamente indispensáveis" para reconstruir a Síria, disse nesta sexta-feira Amy Pope, diretora-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência da ONU.
Na quinta-feira, centenas de pessoas se manifestaram em Damasco pela democracia e os direitos das mulheres.
"A era do silêncio acabou. Estaremos atentas a qualquer postura que possa prejudicar as mulheres e não a aceitaremos", garantiu Majida Mudarres, uma manifestante de 50 anos.
Em Qamishli, no nordeste, milhares de pessoas se manifestaram na quinta-feira em apoio às forças curdas, que tentam repelir as ofensivas dos combatentes apoiados pela Turquia, aliada do novo poder.
Na capital, os habitantes receberam mensagens em seus telefones celulares para participar de uma Festa da Libertação na Praça dos Omíadas, no coração da cidade.
- "Um momento histórico" -
A delegação dos Estados Unidos também vai se reunir com representantes da sociedade civil em Damasco.
Trata-se da primeira missão diplomática formal enviada por Washington desde o início da guerra civil e inclui Roger Carstens, encarregado de procurar americanos desaparecidos na Síria, como o jornalista Austin Tice, sequestrado em agosto de 2012.
França, Alemanha, Reino Unido e Nações Unidas também enviaram delegações a Damasco.
A queda de Bashar Al Asad foi recebida com alegria pela população após quase 14 anos de guerra civil, desencadeada em 2011 pela repressão aos protestos pró-democracia.
O conflito deixou meio milhão de mortos e levou seis milhões de sírios ao exílio.
O HTS, que foi filial do Al-Qaeda na Síria, afirma ter rompido com o jihadismo e busca tranquilizar a comunidade internacional, em um momento em que o país precisa de assistência humanitária "em massa", segundo a ONU.
Os ocidentais temem a fragmentação do país e o ressurgimento do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) que nunca foi completamente erradicado.
O Exército americano duplicou sua força militar na Síria nos últimos meses e agora tem cerca de 2.000 homens. Na sexta-feira, anunciou ter eliminado um líder do EI e outro membro do grupo na província de Deir Ezzor.
Washington apoia as Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos curdos, que controlam as áreas semi-autônomas do norte da Síria.
A situação é muito delicada nesta região, onde a comunidade curda, oprimida por muito tempo, teme perder a limitada autonomia, conquistada a um alto preço desde 2011.
Ao mesmo tempo, há confrontos entre grupos apoiados pela Turquia e combatentes curdos apoiados por Washington.
F.M.Ferrentino--PV