Pallade Veneta - BCB muda de comando, mas manterá aumento da Selic

BCB muda de comando, mas manterá aumento da Selic


BCB muda de comando, mas manterá aumento da Selic
BCB muda de comando, mas manterá aumento da Selic / foto: Sergio Lima - AFP

O Banco Central do Brasil (BCB) deve anunciar um novo aumento da Selic na quarta-feira (29), em sua primeira reunião sob a presidência de Gabriel Galípolo, nomeado pelo governo em meio a pressões inflacionárias.

Alterar tamanho do texto:

Em sua reunião mais recente, em dezembro, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) definiram a taxa de juros em 12,25% e anteciparam um aumento de um ponto percentual em janeiro. Se essa decisão for confirmada, a Selic chegaria a 13,25%, a maior desde agosto de 2023 e uma das taxas mais altas do mundo.

A chegada de Galípolo, um economista de 42 anos considerado próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, certamente não alterará a postura de ajuste do emissor, que tem optado por aumentos consistentes na taxa de juros desde setembro de 2024.

No cargo desde 1º de janeiro, o novo chefe do BCB "não terá uma administração política para agradar Lula. (...) Ele sabe muito bem que se ele resvalar para alguma decisão muito diferente do que o mercado entende como adequado pode ter um custo para depois consertar isso", disse o analista econômico André Perfeito à AFP.

"Não deve ter nenhuma surpresa", acrescentou Perfeito.

Mais de uma centena de instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo jornal econômico Valor concordam que o BCB manterá a previsão de aumento de um ponto percentual.

O Brasil fechou o ano passado com inflação de 4,83%, acima da meta oficial de 1,5% a 4,5%, principalmente devido ao preço dos alimentos. O governo federal sugeriu vários planos para conter o aumento dos preços, sem ainda decidir nenhuma medida específica.

- "Cauteloso" -

O mercado elevou, nesta segunda-feira, sua previsão de inflação para 2025 para 5,50%, ante 5,08% esperado há apenas uma semana, segundo o último boletim Focus do BCB. "Isso deve reforçar o tom cauteloso do Banco Central", comentou Perfeito.

Aumentar as taxas significa tornar o crédito mais caro e isso desestimula o consumo e o investimento, o que reduz a pressão sobre os preços. Mas, ao mesmo tempo, pode frear o crescimento econômico.

Lula teve uma relação tensa com Roberto Campos Neto, antecessor de Galípolo e indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O presidente repreendia o ex-chefe do Banco Central por sua relutância em reduzir a taxa de juros.

Entre setembro e novembro, o Brasil registrou seu menor índice de desemprego em 12 anos (6,1%) e, no terceiro trimestre de 2024, o crescimento econômico atingiu 4% na comparação anual.

Apesar dos bons números, o governo Lula enfrenta desconfiança dos investidores devido à expansão dos gastos públicos.

Seu plano de medidas de austeridade não conseguiu apaziguar o mercado, já que o governo federal anunciou, ao mesmo tempo, uma redução de impostos para a classe média. A moeda se desvalorizou a níveis recordes, aumentando a pressão inflacionária.

Soma-se a isso a expectativa pelos anúncios do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu durante sua campanha tomar medidas tarifárias e comerciais agressivas contra outros países.

O Brasil é vulnerável em uma eventual guerra comercial com os Estados Unidos, seu segundo maior parceiro comercial depois da China.

A posse de Trump "traz mais volatilidade, mais incertezas" e isso "reforça uma leitura mais altista das taxas no Brasil", concluiu Perfeito.

O.Pileggi--PV