Os medicamentos contra o HIV: do AZT às terapias triplas
Por muito tempo considerada mortal, a aids se tornou uma doença crônica, graças à terapia tripla, enquanto se espera por uma vacina que demora a ser produzida dada a capacidade de mutação do vírus HIV.
- AZT
Quando o HIV (vírus da imunodeficiência humana) apareceu no início dos anos 1980, os pacientes estavam condenados a morrer no curto e no médio prazos, e nenhum medicamento parecia funcionar até a chegada do AZT.
Na realidade, a azidotimidina foi inicialmente sintetizada na década de 1960 como um potencial tratamento contra o câncer, mas foi abandonada por falta de resultados convincentes.
Contra a aids, o laboratório americano Burroughs Wellcome, proprietário da molécula, testou-a em um ensaio clínico que se deteve na fase 2, um a menos do que a fase 3 – a última antes da comercialização –, porque os resultados foram bons.
Em 20 de março de 1987, foi autorizado nos Estados Unidos o primeiro tratamento antirretroviral AZT, que agia sobre a atividade de uma enzima chamada "transcriptase reversa", que retarda a replicação do vírus.
Infelizmente, o AZT tinha efeitos colaterais significativos. Posteriormente, foi considerado insuficiente para tratar o HIV, pois agia apenas em uma fase da replicação do vírus.
- Terapias triplas
Em janeiro de 1996, registrou-se um acontecimento importante na conferência internacional sobre retrovírus em Washington, D.C.. Foram apresentados resultados positivos de vários testes realizados por laboratórios.
Era a chegada de uma nova classe de medicamentos, as antiproteases. Essas moléculas impedem outra etapa da replicação do HIV, ao bloquear a maturação de novas proteínas do vírus.
Combinadas com outros antirretrovirais, as antiproteases mudaram completamente o jogo.
“Ao mirar em três etapas, três alvos moleculares, fica muito mais difícil para o vírus escapar do tratamento”, explica o pesquisador Victor Appay, imunologista e diretor de Pesquisa do Inserm francês (Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde e Medicina).
Inicialmente muito caras e reservadas aos países ricos, as terapias se tornaram mais acessíveis, graças a um compromisso assinado em 2001 na Organização Mundial do Comércio (OMC) para permitir que os países em desenvolvimento produzissem medicamentos genéricos.
Hoje, existem cinco tipos principais de drogas antirretrovirais que atuam em diferentes fases da replicação viral. E, cada vez mais, trabalha-se para que o tratamento seja bem menos pesado, com doses menos frequentes.
- PrEP
Em 16 de julho de 2012, um primeiro tratamento chamado PrEP (profilaxia prévia à exposição), o coquetel antirretroviral Truvada, foi autorizado nos Estados Unidos. Desde então, esse tipo de tratamento provou sua eficácia e permitiu que pessoas em risco se protegessem, tomando um comprimido preventivo.
- Transplantes
Houve três recuperações totais de pacientes com HIV por meio de transplante. Pacientes que sofriam de câncer no sangue receberam transplantes de células-tronco que renovaram completamente seu sistema imunológico.
O doador tinha uma mutação rara em um gene chamado CCR5, que impede o HIV de entrar nas células. Esses transplantes foram feitos apenas em casos raros, não em todos os pacientes.
- Possível vacina
É o Santo Graal esperado há quatro décadas.
A dificuldade é que o HIV tem uma poderosa capacidade de mutação e inúmeras subvariantes, o que lhe permite escapar dos pequenos soldados do sistema imunológico.
Pode se tornar invisível, esconder-se em reservatórios e aparecer anos depois.
Até agora, as tentativas de desenvolver uma vacina falharam. Mas o trabalho continua. Uma nova abordagem é a indução de anticorpos na pessoa por meio de uma vacina que a proteja da infecção.
"Essa é a principal esperança", diz Victor Appay, acrescentando que "muitas pesquisas estão sendo feitas para gerar anticorpos de amplo espectro que visem ao maior número possível de cepas do HIV".
C.Conti--PV