Capital do Uruguai, Montevidéu comemora 300 anos em meio a polêmica
Montevidéu, a capital mais ao sul do continente americano, inicia, neste fim de semana, as comemorações de seu 300º aniversário com pompa e circunstância, mas em meio a uma controvérsia pelo possível uso político da verdadeira data de sua fundação.
"Venha festejar de corpo e alma", convida a Intendência de Montevidéu (IM), que governa a cidade e organiza as atividades comemorativas.
O pontapé inicial é um show histórico nesta sexta-feira (19) em frente ao morro na baía do Rio da Prata que deu nome à cidade. Pela primeira vez, a Banda Sinfônica e a Filarmônica de Montevidéu tocam juntas.
A festa com entrada livre continua no sábado, com 40 shows com mais de 300 artistas em cinco palcos espalhados pelo Centro e pela Cidade Velha da principal cidade do Uruguai, que concentra metade dos 3,4 milhões de habitantes do país.
Com candombe, hip-hop, rap, murga, plena e cumbia, e inclusive canto popular, música eletrônica, rock, milonga e tango, há estilos musicais para todos os gostos. Entre as atrações, estão Rada, Luciano Supervielle, Larbanois & Carrero, a DJ Paola Dalto, Buitres e Luana.
"O centro da comemoração é nossa cultura e nossa música, não só dos montevideanos, porque Montevidéu é a capital de todos os uruguaios", disse à Radiomundo Federico Graña, diretor de Desenvolvimento Municipal e Participação da IM.
A IM prevê, ainda, publicações e convocações nos próximos meses para que os montevideanos relembrem sua história e sediem várias mostras e festivais nos bairros, reflitam sobre sua identidade e participem de eventos gastronômicos, esportivos e culturais em praças e outros espaços públicos.
- "Fins eleitorais" -
Para o governo da capital, nas mãos da esquerda há mais de três décadas, não há dúvida de que Montevidéu começou a se formar em 20 de janeiro de 1724.
Na ocasião, uma expedição de colonizadores espanhóis saiu de Buenos Aires, liderados por seu governador, o militar espanhol Bruno Mauricio de Zabala, para se assegurar do controle do território na margem leste do Rio da Prata, que tropas portuguesas pretendiam ocupar desde o ano anterior.
"As provas sobre o início do processo em 1724 são irrefutáveis", diz a IM em sua página na internet, atualizada esta semana.
Mas para muitos na coalizão de centro direita que governa o país, como o deputado Felipe Schipani, Montevidéu só vai completar três séculos em dezembro de 2026.
Nesse dia foi traçado o plano da cidade, que recebeu o nome São Felipe de Montevidéu em homenagem ao rei Felipe V da Espanha, embora logo depois tenha passado a ser conhecida como San Felipe y Santiago de Montevidéu, visto que os dois compartilhavam o mesmo dia na liturgia católica.
"O Estado uruguaio definiu há muito tempo uma data oficial para os festejos do aniversário de Montevidéu: 24 de dezembro de 1726", destacou Schipani na rede X.
O legislador, que esta semana pediu formalmente explicações à intendente Carolina Cosse, enfatizou que em 1926 foram celebrados os 200 anos de Montevidéu, e em 1976, os 250 anos, inclusive com uma moeda comemorativa.
"Por que se antecipam em dois anos?", perguntou-se em um vídeo. "Não se pode falsificar a história com fins eleitorais".
Cosse já anunciou que vai disputar as internas em junho pela candidatura da Frente Ampla às eleições presidenciais de outubro e, segundo a oposição, comemorar o terceiro centenário da cidade é uma plataforma para impulsionar sua candidatura.
Graña lembrou que os festejos estão sendo preparados desde outubro de 2022 e que Schipani esteve no lançamento. O deputado, que avalia ser candidato à IM, admitiu que esteve presente "por curiosidade".
Especialistas indicaram que Montevidéu teve uma etapa fundacional de 1724 a 1730, quando o Cabildo começou a funcionar.
"Montevidéu é uma cidade muito sui generis porque não tem data de fundação", afirmou ao Canal 10 o historiador Alejandro Giménez.
Seu colega, Carlos Demasi, concordou. "Montevidéu não tem uma data de fundação, tem um processo fundacional", disse ao Canal 12.
A professora Ana Fraga mencionou a partilha de terrenos em 1726, mas pontuou que foi "com gente que já estava lá", incluindo familiares do prócer uruguaio José Artigas.
F.M.Ferrentino--PV