Onda de calor sufoca o Cone Sul
Temperaturas recordes sufocam nesses dias o Cone Sul, onde o fenômeno climático El Niño se agrava por causa do aquecimento global provocado pela atividade humana, segundo especialistas.
Em pleno verão austral, alertas por persistentes ondas de calor sufocante começaram a vigorar esta semana e se estendem para a próxima em regiões de Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai, desencadeando ou agravando incêndios florestais, prejudicando a produção agrícola e provocando alertas em relação à saúde.
No Brasil, onde, em novembro, um pico de 43,8ºC com sensação térmica de 59,7ºC, provocou a morte de uma fã da Taylor Swift em um show no Rio de Janeiro, algumas regiões também se preparam para sofrer com o calor.
Nos próximos dias, o Rio Grande do Sul pode experimentar temperaturas de até 40ºC devido a uma "cúpula de calor extremo" vinda da Argentina, apontou a agência de informação meteorológica MetSul.
O fenômeno do El Niño se soma aos efeitos da mudança climática como responsáveis por essas condições extremas, diz Francisco Eliseu Aquino, climatologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
"Não podemos mais!", disse, em Montevidéu, Daiana Garcia, de 34 anos, que trabalha na rua atendendo pedidos para o fornecimento de água. "Esse calorão me mata", confessou à AFP.
Até 9 de fevereiro, espera-se que os termômetros marquem máximas de 38ºC a 41ºC no Uruguai.
Em Assunção, o entregador Marcelo Bellati reconhece que há dias em que tem que se desconectar do aplicativo de entregas a domicílio porque não aguenta o mormaço. Também veste roupa de manga longa, toma muita água e sai para trabalhar.
"É muito sofrido, mas o que vamos fazer, temos que nos adaptar ao que há", afirma.
As autoridades sanitárias do Paraguai pedem à população que evite a exposição prolongada ao sol e recomendam usar protetor solar, chapéus e roupas leves entre as 10h e 17h para enfrentar sensações térmicas de até 48ºC.
O diretor de Meteorologia e Hidrologia do Paraguai, Eduardo Mingo, disse que temperaturas muito altas podem ser registradas na região do Chaco.
"Estou falando de 43°C na sombra de uma caixa meteorológica que está coberta de irradiação solar direta", disse.
Na Argentina, a canícula começou há uma semana no sul com registros de 40ºC, e mantém 21 das 24 províncias sob alerta.
Buenos Aires repetiu na quinta-feira a máxima histórica de 38,1ºC de 12 de fevereiro de 2023, quando se iniciou uma seca que atingiu fortemente a atividade agropecuária, com perdas superiores aos 20 bilhões de dólares (99 bilhões de reais) e incêndios em regiões florestais.
Do outro lado da Cordilheira dos Andes, temperaturas que beiram os 40ºC na região central do Chile, onde está Santiago, aumentaram o risco de propagação de incêndios que pareciam controláveis.
Nesta sexta-feira, o Ministério dos Transportes impôs um bloqueio total do trânsito por "visibilidade reduzida por fumaça" na Rota 68, que liga Santiago a Valparaíso e leva ao vale vitivinícola de Casablanca e ao balneário de Viña del Mar, destinos de grande chegada de turistas em fevereiro.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU disse em janeiro que 2024 pode ser mais quente, sob a influência do El Niño, que 2023, que já bateu o recorde do ano mais quente, e instou cortes drásticos de emissões de gases de efeito estufa para combater o aquecimento global.
C.Conti--PV